22/04/2014 às 09h49min - Atualizada em 22/04/2014 às 09h49min

“O dia que a Santa apareceu nos Pirineus”

Por Luciano Baía Meneghite

Luciano Baía Meneghite
Fotografias gentilmente cedidas por Mário Pinheiro

  Fenômeno sobrenatural ou natural? Auto-sugestão ou ilusão de ótica? Verdade ou invencionice? Tantos são os relatos no mundo, quanto suas interpretações. Independente disto, quem é que não gosta de ouvir estórias ou histórias envolvendo mistérios?Todo mundo já deve ter ouvido casos de “assombrações”, “Discos Voadores”, “curas milagrosas” etc...Geralmente, casos passados na roça, num casarão de fazenda ou lugar descampado. Estórias cheias de barulhos estranhos, vultos, correntes, folhas de Panacéia, galhos secos de árvores centenárias, Fogo-fatuo, cemitérios...

  Alguns casos indecifráveis, por si próprios ou pela forma como são divulgados, acabam por se tornar realmente fenômenos sociais e religiosos. Muitas vezes passíveis de crítica. Dias Gomes retratou muito bem na novela “Roque Santeiro” a manipulação religiosa e política de um falso mito. Com isso, motivou censura e causou incomodo na própria emissora.

  Em Leopoldina, o mais antigo caso misterioso que se tem registro, trata da lenda da cruz queimada de Piacatuba, (1823) divulgada,por sugestão de Plínio F. Alvin no antigo programa norte-americano Acredite se quiser transmitido pela extinta Rede Manchete.

  Em 1963, correu na cidade e região a notícia de que, a exemplo do ocorrido em Fátima-Portugal em 1917, algumas crianças no Alto dos Pirineus, em Leopoldina, teriam tido visões do que seria a “Virgem Maria”. Rapidamente, uma comoção tomou conta da cidade. Romarias de fiéis e curiosos passaram a ser feitas no local da suposta aparição. Daí seguiram-se vigílias, promessas, pedidos, enfim um monte de fatos, alguns até cômicos.

  O Alto dos Pirineus sempre inspirou um ar de mistério, por ter abrigado, no séc XIX, talvez o primeiro cemitério de Leopoldina, e claro pela árvore da forca. Motivo de muitas estórias.

  Conversamos com uma das pessoas, que àquela época com seis anos de idade, teria tido a visão. Segundo ela, (a mulher prefere não se identificar) como era muito pequena, não se lembra exatamente o que viu, mas que realmente brincava no local, um barranco, com umas flores colhidas no mato e as colocava em um fundo de talha velha,lembrando das coroações de imagens de Nossa Senhora e que ao olhar em direção a uma pequena árvore, algo chamou a atenção. A imagem em sua memória não é nítida, mas teria visto uma mulher flutuando. Outras crianças mais velhas também teriam visto.
Ela conta que após a notícia se espalhar, passou a ser comum as aglomerações de pessoas no local, sendo este de difícil acesso e com os empurra-empurra, pessoas simplesmente chegavam a rolar barranco abaixo. Algumas atolavam no barro, já que nem a chuva impedia a peregrinação. Sua mãe embora evangélica, respeitava a crença alheia e numa ida ao local, também foi uma a cair na ribanceira, que dava na atual Rua Presidente Carlos Luz. Até caravana de ônibus do Rio de Janeiro chegou a vir. Havia pedidos de geladeiras e coisas do tipo. Ataques de histerismo e desmaios também eram vistos. Uns verdadeiros, outros simplesmente para chamar a atenção.

  Segundo a mulher, com o tempo, o caso passou a incomodar a família, pois a todo momento pessoas queriam levá-la ao local, na esperança de que algo pudesse acontecer. Em troca, prometiam presentes e até pagamento de seus estudos. Ela lembra que sua mãe, temendo pela sua segurança, comprou uma boneca cara, para suas posses e fez agrados à filha, para impedi-la de sair à rua.

  Com o tempo, como nada de anormal se sucedeu, o caso foi caindo no esquecimento. Apesar da igreja Católica não ter reconhecido oficialmente nenhum tipo de milagre, no local do ocorrido foi colocada uma capelinha, uma espécie de oratório e mais tarde, entre 1976 e 1979 foi construída em mutirão, num terreno ao lado, a capela de Nossa Senhora Aparecida, com apoio de pessoas como Dr. Dalmo Pires Bastos, Ely Rodrigues Netto e Pe. Domingos Ferreira de Oliveira.

  Isso tudo se passou numa época em que as informações chegavam lentamente, quando chegavam. Leopoldina tinha aproximadamente trinta mil habitantes, sendo a maioria na zona rural. A televisão era recente, só vindo para a cidade em agosto de 1958, mesmo assim para poucos que pudessem adquirir o aparelho. O rádio era ainda o principal meio de informação. Imagens em movimento, só no Cine Theatro Alencar ou Cine Brasil.

  Houve quem dissesse à época que tudo não passou de influência do filme exibido na cidade The miracle of lady of Fátima” “O Milagre de Fátima” dirigido por Jonh Brahm de 1952.O próprio filme, segundo alguns críticos, contém imprecisões históricas, sendo acusado de mero instrumento de propaganda anticomunista. Especialistas dizem ser comum crianças pequenas conversarem sozinhas ou com amigos imaginários. O que não quer dizer que estejam propositadamente mentindo. Apesar de todas essas possibilidades, há entre os que ainda lembram do caso,quem acredite fielmente que o que aconteceu foi um milagre. Cabe a nós respeitarmos, já que talvez ninguém saberá o que de fato ocorreu naqueles dias.


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