02/09/2014 às 09h08min - Atualizada em 01/10/2014 às 09h08min

Leitor denuncia que plantas aquáticas estão prejudicando a pesca na represa de Barra do Braúna

A vegetação encobre o espelho d'água.

O leitor Anderson Silva envia e-mail a vários órgãos de imprensa da região, entre eles o Jornal Leopoldinense, anexando fotos do lago formado pela represa Barra do Braúna que fica entre Laranjal, Recreio, Palma e Leopoldina.  Segundo seu relato, “desde que a represa foi construída pela empresa canadense Brookfield os nossos pescadores passam dificuldades. O lago está todo tomado por gigoga ou macrófitas e esta planta tira o oxigênio da água e diminui a quantidade de peixes, além de atrapalhar a passagem de barcos. Essas plantas são plantas daninhas, elas multiplicam-se rapidamente pela a lâmina d´água, dificultando a pesca e a  navegação. Está acabando com os nossos peixes, com a fonte de renda dos pescadores. Faço parte de um grupo de pescadores de Palma  e pescamos em toda a região banhada pelo Pomba e temos contato com pescadores do estado do Rio em Miracema e  Pádua e todos sentem os danos causados. Os peixes sumiram e represa não tem escada de peixe na piracema em total desrespeito com pescadores e a natureza. Pedimos providência e  vamos denunciar a situação em Ubá”, conclui o e-mail, Anderson Silva.

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Conheça a gigoga e seu papel no meio ambiente aquático

O Jornal Leopoldinense Online pesquisou sobre a planta mencionada por Anderson Silva e veja o que encontrou: Considerada uma praga para algumas pessoas, essa planta aquática de fácil reprodução proporciona grandes benefícios ao meio ambiente

Gigoga, Aguapé, Iguapé, Mururé, Camalote, Rainha-dos-lagos, Jacinto-d’água, Baroneza, Murumuru, Pavoa, Pareci. Em cada canto que ela aparece recebe um nome diferente, mas todos eles denominam a mesma planta: a Eichhornia crassipes.

A gigoga se desenvolve no meio ambiente aquático contaminado. Ela é conhecida por despoluir as águas, já que suas raízes filtram a matéria orgânica. Ela também auxilia na alimentação e reprodução de diversas espécies aquáticas. Suas raízes são utilizadas como alimento, proteção para pequenos peixes e serve como locais de desova.

Sua estrutura é constituída por folhas subaquáticas longas e estreitas e por raízes com uma infinidade de pelos e rizomas. As folhas encontradas acima da superfície da água são geralmente largas e têm formato arredondado.

As gigogas são vegetais de água doce ou salobra. Como elas proliferam muito nas águas poluídas por esgotos domésticos, sua remoção periódica é necessária para que não ocupe completamente a superfície da água.

A flor desta planta normalmente aparece no final do verão, ela é grande e arroxeada, com macula amarela em uma das pétalas. Uma das fraquezas desta planta é não suportar temperaturas muito baixas, portanto durante inverno deve ser bem protegida.

Esse vegetal aquático se reproduz por brotamento. As novas plantas não necessitam de sementes, pois nascem a partir do caule principal. De acordo com o Instituto Tecnológico do Estado de Pernambuco, nas condições de insolação características do verão brasileiro, elas chegam a produzir até 1,1 kg de massa vegetal nova por metro quadrado por dia e nos meses de inverno 0,7.

Considerando, portanto, a produção média anual de gigoga e a quantidade de matéria orgânica obtida, nota-se que ela pode representar uma fonte energética interessante para o meio ambiente.

Para obter energia deste vegetal é necessário que as folhas, caules e raízes sejam triturados utilizando-se uma máquina do tipo que prepara capim para alimentação de gado bovino. Depois de triturados, o material obtido será submetido à fermentação em um biodigestor anaeróbio.

O biogás obtido a partir da biodigestão anaeróbia será transformado em energia elétrica por meio de motogeradores ou suprido diretamente às residências para substituição do GLP nos fogões domésticos.

Desta forma, as gigogas, consideradas por muitos como uma praga, além de evitarem a poluição e a degradação de cursos d´água também podem ser fonte de geração de gás combustível ou energia elétrica, contribuindo para a manutenção do meio ambiente.

Fonte: Pensamento Verde  (www.pensamentoverde.com.br)

 

Escadas para peixes são Armadilha ecológica para espécies tropicais

A construção de uma barragem prejudica o ciclo reprodutivo de diversas espécies de peixes ao impedir que eles nadem rio acima em busca de um local apropriado para a desova. Para minimizar o problema, a solução mais comum é a construção de escadas – seqüências de tanques que formam uma corredeira artificial capaz de estimular a subida dos cardumes.

No entanto, um novo estudo feito por pesquisadores da Universidade Estadual de Maringá, no Paraná, mostra que as escadas para peixes, idealizadas originalmente para salmões na América do Norte, são uma armadilha mortal para as espécies tropicais. O dispositivo aumentaria o risco de extinção das populações que vivem rio abaixo das barragens.

O trabalho, de Fernando Pelicice e Angelo Agostinho, foi publicado na revista Conservation Biology e foi objeto de reportagem na revista Nature.

De acordo com Agostinho, o estudo comprovou que as escadas para peixes preenchem todos os requisitos para serem enquadradas no conceito de armadilha ecológica. Idealizadas como medida de conservação, elas atuam como uma fonte adicional de impacto ambiental.

“Confirmamos que as escadas apresentam diversos problemas. O principal deles é que, depois de subir, os peixes adultos e as larvas não voltam mais e, assim, não completam o ciclo reprodutivo. Eles acabam confinados no trecho acima do reservatório, onde o ambiente é mais pobre para a reprodução”, disse.

O estudo é resultado de uma série de pesquisas em parceria com a Universidade de Tocantins. Foram observadas as escadas dos reservatórios de Porto Primavera, no rio Paraná, do complexo do rio Paranapanema e da usina de Lajeado, no rio Tocantins.

“Reunimos um grande volume de dados que incluíam levantamentos sobre as escadas, reprodução de peixes, larvas e estudos genéticos. Utilizamos esse conhecimento para aplicar o conceito de armadilhas ecológicas”, disse Agostinho.

Em seu ciclo de vida natural, peixes como o dourado (Salminus brasiliensis), pintado (Pseudoplatystoma corruscans), piracanjuba (Brycon orbignyanus), pacu (Piaractus mesopotamicus) e curimbatá (Prochilodus lineatus) migram rio acima durante a época de cheia para desovar em afluentes.

Mas a volta é fundamental para o ciclo reprodutivo. “Os ovos descem pelo turbilhão das águas enquanto se desenvolvem e, ao chegar à região de várzea, adentram canais e lagoas. Nesses ambientes marginais, desconectados dos rios fora da época de cheia, eles encontram ambiente seguro para crescer. Na cheia seguinte, voltam aos rios e se integram aos cardumes de adultos”, explica Agostinho.

 

Bom para salmão

Segundo Angelo Agostinho, as espécies migradoras são afeitas às águas rápidas. Depois de utilizar as escadas para passar ao segmento superior do rio, os peixes não voltam mais, pois são desestimulados ao encontrar as águas paradas do reservatório.

“É efetivamente uma armadilha. O peixe sai do trecho abaixo da barragem, onde poderia completar seu ciclo, e vai para o trecho acima, onde não tem condições de retornar”, destacou.

Na parte de baixo, segundo Agostinho, os peixes e larvas poderiam encontrar águas turvas e meandros apropriados para se abrigar dos predadores. “Na parte de cima eles podem até encontrar afluentes do rio para desovar, mas as larvas descem para o reservatório e encontram uma água parada e límpida, onde dificilmente escapam de predadores.”

De acordo com Pelicice, que é o autor principal do estudo, as escadas foram concebidas para salmonídeos que, vindos do mar, sobem os rios, atravessam as escadas e os reservatórios e desovam nas cabeceiras. As escadas funcionam no hemisfério Norte porque os salmões adultos não precisam voltar: eles desovam apenas uma vez na vida e o ciclo se completa numa só jornada. Os peixes da América do Sul, no entanto, desovam diversas vezes na vida.

“No caso dos salmões, a migração descendente ocorre quando o peixe já tem de 12 a 15 centímetros. Por isso, quando migra rio abaixo, o peixe jovem tem condições de passar pelo reservatório e pelos vertedouros. Entre nossos grandes migradores, são as ovas que descem passivamente, por 70 ou 80 quilômetros, enquanto se desenvolvem. Quando encontram o reservatório, ficam à deriva e podem ser predadas por qualquer lambari”, disse Agostinho.

Os peixes da América do Sul, segundo Pelicice, deslocam-se ao longo do rio, dispersando-se pela bacia. Se não têm chance de voltar do barramento, o estoque diminui, ao longo do tempo, na jusante (na parte de baixo do rio).

 

Sem estímulo para retornar

De acordo com Agostinho, as escadas deveriam ser fechadas quando não há locais para os peixes completarem seu ciclo na montante da barragem. “A escada de Lajeado foi fechada, por solicitação do Ibama, exatamente porque se notou que havia prejuízo para a reprodução das espécies. Mas aquela área, ao contrário do caso de Canoas, não caracteriza uma armadilha, pois conta com vastas áreas acima da barragem”, afirmou o professor titular do Núcleo de Pesquisas em Limnologia, Ictiologia e Apicultura.

Pelicice ressalta que o dispositivo da escada, em si, não representa dificuldade para que os peixes desçam o rio de volta. “O problema é o reservatório. Quando terminam de subir, eles atravessam a água estagnada em busca do trecho superior de rio. Mas, quando tentam voltar, são desestimulados pelo reservatório e nem alcançam a escada de volta”, explicou.

Segundo Agostinho, além de impedir a volta dos peixes adultos e larvas, as escadas não servem para a maioria das espécies. “Elas são implantadas sem um objetivo claro, simplesmente porque há um senso comum que acredita em sua utilidade. Mas só algumas poucas espécies acabam utilizando as escadas, nem sempre as migradoras. Do ponto de vista da conservação, as escadas são ineficazes”, disse.

Para Pelicice, a origem do problema é a ausência de estudos adaptativos. A técnica de escadas do hemisfério Norte foi transposta para a América do Sul sem se considerar o contexto. “Por isso, há diversas deficiências. Há o impacto ecológico, que traz prejuízo às populações, e o problema de seletividade, que é inerente às escadas, porque impossibilita a subida de parte das espécies”, afirmou.

 

Da redação com informações Agência FAPESP-Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP)


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