03/03/2016 às 09h57min - Atualizada em 03/03/2016 às 09h57min

Semana dos Poemas de Manuel Bandeira

O  CANTINHO POÉTICO  homenageia  esta semana  o POETA  que , marcado para poesia , constituiu sua vida em tudo  aquilo e só aquilo que expressou  em arte literária :  MANUEL  BANDEIRA .  Ao dizer que  “ engoliu um dia um piano , mas o teclado ficou de fora “  , constrói  seu autorretrato  através de uma manifestação poética  , onde pinta um permanente estado de espírito, o eterno riso de sua boca alegre , ocultando o ar disposto do mau destino presente em grande número de suas poesias  , motivado pela espera  da morte desde dezoito anos . Podemos constatar tal afirmação no  poema : 

“   EPÍGRAFE  “
Sou  bem  nascido .  Menino  ,
Fui ,  como  os  demais ,  feliz .
Depois ,  veio  o  mau  destino
E  fez  de  mim  o  que  quis .
 
Veio  o  mau  gênio  da  vida ,
Rompeu  em  meu  coração ,
Levou  tudo  de  vencida ,
Rugiu  como  um  furacão ,
 
Turbou ,  partiu ,  abateu ,
Queimou  sem  razão  nem  dó _
Ah ,  que  dor !
 
Magoado  e  só ,
__ Só !  __  meu  coração  ardeu .
 
Ardeu  em  gritos  dementes
Na  sua  paixão  sombria  ...
E  dessas  horas  ardentes
Ficou  esta  cinza  fria  ...
 
__  Esta  pouca  cinza  fria  ...
 
MANUEL  BANDEIRA  expressa  neste  poema  características  que  se  coadunam  com  uma  enorme insatisfação  da vida ,  justificada  pela  tristeza  e  manifestada  pela  sordidez  do  Poeta  na visão lírica de cada verso  em  :
        
 “NOVA  POÉTICA  “                                                                                                                                                         

Vou  lançar  a  teoria  do  poeta  sórdido .
Poeta  sórdido :
Aquele  em  cuja  poesia  há  a  marca  suja  da  vida .
Vai  um  sujeito ,
Sai  um  sujeito  de  casa  com  a  roupa  de  brim  branco  muito
                                       [  bem  engomada ,  e  na  primeira  esquina
                                       [  passa  um  caminhão ,  salpica-lhe  o  paletó
                                       [  Ou  a  calça  de  nódoa  de  lama :
É  a  vida .
O  poema  deve  ser  como  a  nódoa  no  brim :
Fazer  o  leitor  satisfeito  de  si  dar  o  desespero .
Sei  que  a  poesia  é  também  orvalho
Mas  este  fica  para  as  menininhas ,  as  estrelas  alfas ,  as  virgens
                                                         [ cem  por  cento  e  as  amadas  que
                                                         [  envelheceram  sem  maldade  .
 
     Com  uma  bela  criação constituída   somente  com   palavras  ,  MANUEL  BANDEIRA  , num  recurso  estilístico  , processa  um  poema  musical , com  foco  nas obras  de  Debussy ,  compositor  francês ,  quando executava  suas  canções  para  piano . O  Poeta  não teve intenção  de  apresentar uma  música ,  portanto  observa-se  um seguimento de poesia  ,  com  arranjos  de  palavras
      
“   DEBUSSY  “
Para  cá ,  para  lá  ...
Para  cá ,  para  lá  ...
Um  novelozinho  de   linha ...
Para  cá ,  para  lá  ...
Para  cá ,  para  lá  ...
Oscila  no  ar  pela  mão  de  uma  criança
(  Vem  e  vai  ... )
Que  delicadamente  e  quase  a  adormecer  o  balança
__ Psiu  ...  __
Para  cá ,  para  lá  ...
Para  cá ,  e  ...
__ O  novelozinho  caiu .
 
         Em um   poema  construído  com  base nas  onomatopéias  rítmicas , o  Poeta  desenvolve toda  a  poesia  num  sentido  sônico  imitativo  de  um  trenzinho  do  interior  em  sua  partida   , com  dificuldades num impulso inicial   de  seus   movimentos  lentos  e ainda  sem velocidade  ,  a  visão  paisagística  da  roça  , e  um  estilo   próprio  do  linguajar  do  homem  do  interior ,   tudo como  recurso  de estilística  fônica    para  impressionar  no  leitor  uma  sensação  de  sonoridade  ,  idêntica  ao  ruído produzido  pelo :  
        
“   TREM  DE  FERRO   “

Café  com  pão
Café  com  pão
Café  com  pão
Virge  Maria  que  foi  isso  maquinista  ?
Agora  sim
Café  com  pão 
Agora  sim
 Voa ,  fumaça
Corre ,  cerca
Ai  seu  foguista
Bota  fogo Na  fornalha
Que  eu  preciso
Muita  força
Muita  força
Muita  força
   
Oô  ...
Foge ,  bicho
Foge ,  povo
Foge  ponte
Foge  poste
Foge  pasto
Foge   boi 
Foge   boiada
Passa   galho
De   ingazeira
Debruçada
No   riacho
Que  vontade
De   cantar  !
Oô ...
Quando  me  prendero
No  canaviá
Cada  pé  de  cana
Era  um  oficiá
Oô  ...
Menina  bonita
Do  vestido  verde
Me  dá  tua  boca
Oô  ...
Vou  mimbora  vou  mimbora
Não  gosto  daqui
Nasci  no  sertão
Sou  de  Ouricuri
Oô  ...
 
Vou  depressa
Vou  correndo
Vou  na  toda  
Que  só  levo
Pouca  gente
Pouca  gente 
Pouca  gente ...
 
                 Ainda  abusando , estilisticamente ,  de  recursos  fônicos  , o  poema  a  seguir   apresenta  a questão  sobre  o  som  das  palavras  ,  independentemente , de  seus  significados .  MANUEL   BANDEIRA   obtém  um  precioso efeito  lírico ,  incorporando  os  sons  expressos  através  das  palavras  à  significação  do  poema  , sugestionando  ao  leitor  ou  ouvinte  as  badaladas dos  sinos ,  traduzindo ,  grosso  modo  ,  as  tristezas  e  as  alegrias  da  vida .
 
                                                       
“    OS   SINOS    “
Sino  de  Belém ,
Sino  da  Paixão  ...
Sino  de  Belém ,
Sino  da  Paixão
Sino  do  Bonfim ! ...
Sino  do  Bonfim ! ...
Sino  de  Belém  ,  pelos  que  inda  vêm  !
Sino  de  Belém  bate  bem-  bem -  bem !
 
Sino  da  Paixão ,  pelos  que   lá  vão  !
Sino  da  Paixão  bate   bão -  bão  -  bão .
 
Sino  do  Bonfim ,  por  quem  chora  assim ? ...
Sino  de  Belém ,  que  graça  ele  tem  !                                                                                                                                                                                                       S                                     Sino  de  Belém  bate  bem –bem – bem .
Sino  da  Paixão __  pela  minha  mãe !
Sino  da  Paixão __  pela  minha  irmã !
Sino  do  Bonfim ,  que  vai  ser  de  mim  ? ...
Sino  de  Belém ,  como  soa  bem !
Sino  de  Belém  bate  bem – bem – bem .
Sino  da  Paixão ...  Por  meu  pai ? ...__  Não ! Não ! ...
Sino  da  paixão  bate  bão – bão – bão .
Sino  do  Bonfim ,  baterás  por  mim ? ...
Sino  de  Belém ,
Sino  da  Paixão ...
Sino  da  Paixão ,  pelo  meu  irmão ...
Sino  da  Paixão ,
Sino  do  Bonfim ...
Sino  do  Bonfim  ,  ai  de  mim ,  por  mim !
Sino  de  Belém ,  que  graça  ele  tem  !

             Mesclando  seus  conhecimentos em Língua Portuguesa , pois foi professor em parte de sua vida ,  e uma prerrogativa  de criar palavras , porque tem licença poética , MANUEL  BANDEIRA  , usando de uma bela magia  criativa , expressa  uma declaração amorosa  em linda linguagem mítica .

“   NEOLOGISMO  “

Beijo pouco , falo  menos  ainda .
Mas  invento  palavras
Que  traduzem  a  ternura  mais  funda
E  mais  cotidiana .
Inventei ,  por  exemplo ,  o  verbo  teadorar .
Intransitivo :
Teadoro ,  Teodora  .

      Em  um  melancólico  diálogo cujo  tema  expressa  o valor  da  vida  e  a  maneira  de viver  ,    MANUEL  BANDEIRA   em  um  singelo  e  pequeno&nbs
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