18/11/2023 às 11h29min - Atualizada em 18/11/2023 às 11h29min

Luiz Carlos Montenari - Cala-se a voz mais conhecida do rádio leopoldinense nos últimos 50 anos

Luciano Baía Meneghite
Luiz Carlos Montenári em participação na Rádio Cidade Leopoldina - 104,3FM
Morreu na manhã deste sábado, 18/11 aos 76 anos, em sua residência o radialista Luiz Carlos Oliveira Montenári. Montenári já vinha sofrendo nos últimos anos complicações do Mal de Alzheimer. Ele  foi nas últimas décadas  o nome mais conhecido do rádio leopoldinense.

Segundo seu sobrinho Oldemar Montenári, o velório acontece na tarde e noite de sábado na Capela Mortuária Lions Clube e o sepultamento será às 10h do domingo,19/11.

Montenári a vida e o rádio

Quando pequeno eu escutava rádio mais de carona no Transglobe que meu pai Luiz Otávio ligava de madrugada na Rádio Globo ou Rádio Nacional. Pouco eu ouvia rádio local.  Por volta de 1989/90 meu pai, então assessor de imprensa da Prefeitura de Leopoldina me disse para ligar na Rádio Jornal por volta das 11:30 que ele iria começar a fazer participações no programa do Montenári, dando notícias da Prefeitura. Na verdade, seria uma volta, já que no início da década de 70 quando começou no rádio já fazia participações no programa do mesmo Luiz Carlos Montenári. Ainda na década de 70 ambos assinaram a coluna “Cosa Nostra” no jornal “A Tocha” do também polêmico Dalmo Pires Bastos. Mais tarde as participações de meu pai viraram o boletim “Linha Direta” junto com o novato Emanuel Azevedo, que vinha antes do Jornal da Cidade. Foi então que comecei a prestar a atenção na figura de Montenári. Desde a vinheta de abertura com o rock progresssivo 
Fanfare For The Common Man -Emerson, Lake & Palmer  ou o tema do filme Tubarão,  até sua despedida do programa que parecia nunca chegar ao fim.


Coluna de Luiz Carlos Montenári e Luiz Otávio Meneghite no jornal "Equipe" que depois mudou o nome para "A Tocha"   (Exemplar gentilmente cedido por Edson Gomes Santos)

Nascido em 16 de agosto de 1947, segundo filho do barbeiro, comerciante, músico e líder espírita Oldemar Montenári e da operária da fábrica de tecidos Alaíde Oliveira Montenári. Irmão de Elizabeth, Néio e Lívia.

Infância

O menino Luiz Carlos nasceu com problemas de visão, mas após tratamentos médicos e até espirituais por indicação do médium Chico Xavier, amigo de seu pai, passou a enxergar razoavelmente bem. Trabalhou como engraxate e vendedor no Salão Bijou, mistura de barbearia, livraria e armarinho de propriedade do Sr. Oldemar. Na adolescência voltou a ter problemas de visão e aos 18 anos ficou totalmente cego.  Chegou a morar por um breve período em Belo Horizonte, onde frequentou o Instituto dos Cegos.  Foi um período muito difícil, mas aos poucos foi se adaptando, embora não tenha aprendido a leitura em braile.


Equipe da Rádio Jornal AM 1560 - 1989. Da esq/dir: Jairo Fernandes, Mauro Heleno, Arnaldo Espíndola, Marcus Vinícius Schettine, José Antônio Montenário (Primo de Luiz Carlos), Canhotinho. Sentados: Warley Botelho "Lalinho", quarda mirim Thiago, o gerente da emissora e comunicador Zé Américo Barcellos e Luiz Carlos Montenári.    
( Fotografia gentilmente cedida por Marcus Vinícius Schettine )

Rádio

Montenári sempre acompanhou os acontecimentos pelo rádio, principalmente a Rádio Nacional.  Dizendo-se admirador de radialistas famosos como Carlos Espera, Vicente Leporace, entre outros. Entrou para o rádio em 1969 pelas mãos de Roberto Vizani Yung, o popular radialista “Xamego “, então diretor da Rádio Sociedade Leopoldina  ZYK-5 . Seu primeiro programa foi “Comunicação”, seguido do “Domingo Alegre”, este que por mais tempo ficou no ar. Ao longo dos anos apresentou programas diversos, como “Sua Noite em Nova Dimensão”, “Sala de Visitas”, Parada Permanente do Sucesso”, "Resumo Geral" e o principal, “Jornal da Cidade”.

Apesar da assimilação de certa linguagem radiofônica, Montenári sempre manteve uma forma direta e popular de se comunicar, atingindo grande público. Se na década de 1970 dizia-se simpático ao brizolismo e crítico da ditadura militar então vigente, com o passar dos anos, foi adotando posições mais conservadoras. Na década de 1980, envolveu-se em uma grande polêmica após noticiar com detalhes um assalto a um motel de Leopoldina, sendo afastado da Rádio Leopoldina e ficando longe do microfone por seis anos.  Segundo o mesmo, teria “pecado por excesso de eficiência. ”  


O radialista Luiz Carlos Montenári entrevista beneficiários da sua tradicional Cesta Básica de Natal. Ao lado Marlene, sua companheira dos últimos anos.
(Arquivo jornal Leopoldinense)

Ainda na década de 80 volta à Rádio Leopoldina, que passou a se chamar Rádio Jornal – AM – 1.560krz, pertencendo ao sistema Multisom, do Grupo Cataguases-Leopoldina, atual Energisa. 

Volta com seu polêmico jornal da Cidade por volta do meio dia. Uma mistura de boletim policial com prestação de serviços e assistencialismo. A audiência explode. Montenári vira quase sinônimo de rádio em Leopoldina, praticamente igualando o sucesso de seu mentor Xamego.

Paralelamente, fazia uma dobradinha com Zé Américo Barcelllos, então diretor da rádio, participando dos programas deste, como “Detalhes” que antecedia ao Jornal da Cidade, “Fragrantes”, entre outros. Zé Américo, além da grande capacidade intelectual, usava de muito humor, muitas vezes batendo de frente com Montenári. Umas vezes em jogadas meio ensaiadas, outras com discussões reais no ar.

Aos sábados à tarde apresentava a “Parada Permanente do Sucesso” e o “Domingo Alegre”. Músicas pouco tocadas no restante da programação, comentários gerais, notícias e muita participação dos ouvintes pelo telefone.

Montenari entrevistando o governador do Rio de Janeiro, candidato à Presidência da República pelo PDT, Leonel Brizola em visita deste à Leopoldina.(Foto: Gazeta de Leopoldina)

Montenári em seus longos editoriais emitia opiniões muitas vezes contraditórias. Ora meio reacionárias, ora progressistas demais para uma cidade como Leopoldina. Algumas coisas ninguém questionava. Seu carisma, sua capacidade de prender a atenção do ouvinte, sua boa intenção em ajudar a muitos que o procuravam e seu amor à terra natal. “Leopoldina é como uma mulher vagabunda que a gente sabe que não vale nada, mas gosta dela assim mesmo. ” Dizia em tom de chacota.


Montenári foi quem mais incentivou a entrada no rádio de Luiz Otávio Meneghite, hoje editor do jornal Leopoldinense
(Arquivo jornal Leopoldinense)




Últimos anos

Com a perda ainda na década de 90 de sua irmã Beth, cadeirante e militante do movimento espírita, logo seguida de sua mãe Alaíde, Luiz Carlos passa a contar mais com a presença de amigos e outros familiares em sua casa na rua Presidente Carlos Luz, n°214. Neste endereço atende também aqueles a quem chamava de “Meus Pobres” com gravação de pedidos no “Microfone da Esperança” e distribuição de cestas básicas, roupas, cobertores, medicamentos e diversos outros donativos. A funcionária Lúcia, Juarez Corredor, seu guia mais constante, Marlene sua companheira, seu antigo vizinho Xoxola, Marcus Vinícius "Papão" os irmãos Livia e Néio entre outros, tornam-se personagens de seus casos contados nos programas. Muitos destes com humor até involuntário.


Arnaldo Espíndola, Junior Buonincontro, Alex Siqueira (IN), Montenári, Cândido Ribeiro, Anderson Fontanela(IN), Anderson Nogueira(IN) e Silmara Matola em aniversário do veterano radialista. (Fotografia de Shalon Macedo)

Em 2009 Leopoldina ganha seu primeiro site com notícias diárias, o www.leopoldinense.com.br. Posteriormente, com a contratação de seu amigo Luiz Otávio para a Rádio Jornal para apresentação do matinal jornal Leopoldinense no Ar, através de um link no site do jornal, a rádio passa a ser transmitida pela internet.  Montenári a princípio crítico da ferramenta, se entusiasma com o fato de estar falando para o mundo.

Mas com o crescimento da internet e posteriormente das redes sociais e surgimento de outras fontes noticiosas locais, Montenari vai aos poucos perdendo espaço na divulgação imediata dos fatos, embora ainda mantenha grande audiência entre as camadas mais populares. 


Montenári entre Luiz Otávio Meneghite e Warley Botelho "Lalinho" em reunião da Câmara por volta de 1990
(Foto: Jornal Equipe)


Sem entrar no mérito; o veterano radialista em alguns períodos sentindo-se desprestigiado, expôs no ar de forma direta ou velada suas insatisfações na profissão. 

Nos últimos anos sua presença no ar é reduzida, sendo auxiliado por outros locutores na apresentação dos programas. Com a pandemia a partir de 2020 passa a fazer de casa  participações no Jornal da Cidade que então tem apresentação revezada por Jorge Renato, Marcos Paixão, e  Jairo Fernandes. Chega a voltar aos estúdios, mas os sinais do mal de Alzheimer avançam e impossibilitam seu retorno definitivo.

Era o fim de uma era no rádio leopoldinense.

Entrevista à Rádio Equipe do Colégio Equipe realizada em 2019:




Leia também: 

Montenári, eu, Vitalino e o E.T. de Leopoldina

 
 
 


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