Aos pés do Morro do Cruzeiro, um casarão em ruínas, escondido pela vegetação é um simbolo de uma Leopoldina que vai sendo apagada com o tempo. Alí gerações de crianças, vitimas das profundas injustiças sociais de sempre, encontraram abrigo e carinho. Muitas conseguiram vencer as dificuldades impostas e formar uma familia. Outras não tiveram o mesmo fim e há aquelas de quem ninguém nunca mais ouviu falar.
O casarão do Orfanato Lenita Junqueira aos pés do Morro do Cruzeiro - Década de 50/60 do século XX
(Fotografia: Autor desconhecido, gentilmente cedida por Nisley Machado Soares) Criado por influência do padre italiano Julio Fiorentini em 1922, como Patronato para meninas carentes nas terras que pertenceram à antiga Fazenda da Grama, uma das primeiras criadas em Leopoldina no início do século XIX. O Orfanato Lenita Junqueira foi inaugurado de fato em 24 de maio de 1946. O empresário Ormeo Junqueira Botelho foi seu provedor por muitos anos. Tal responsabilidade de manutenção passou a conselheiros e herdeiros.
Dr. Ormeu, irmã de caridade e meninas em brincadeira de roda no pátio do orfanato num registro para a Revista Rotária na década de 50 No primeiro piso do casarão também funcionava escola pública primária aberta às demais crianças de Leopoldina.
1949 - O Rotary Clube Leopoldina, faz a doação de uma máquina de costura ao orfanato. Presentes além da Madre Carmelita e órfãs internas da instituição, os rotarianos, Lélio Lara, Job Nogueira, Ormeu Junqueira Botelho, Joaquim Custódio Guimarães, Aguinaldo Moreira da Silva e Henrique Valdovinos. ( Fotografia gentilmente cedida por Maria da Glória Costa Reis )
Festa Junina do Orfanato Dona Lenita Junqueira 1958/59. Em destaque, Sueli Marinato e Terezinha de Jesus Meneghite, alunas da escola primária que funcionava na sede do orfanato ( Fotografia - Álbum de família )
No inicio dos anos 2000 não chegavam a dez o número de meninas assistidas pelo Instituto Lenita Junqueira, seu nome oficial. Com o antigo casarão bem deteriorado e não recebendo manutenção adequada, o orfanato foi sendo transferido para casas alugadas, permanecendo um bom tempo na Cohab Velha e funcionando por último na rua Tiradentes, próximo à Praça do Urubu.
Com a extinção da instituição, houve alguma polêmica entre os antigos responsáveis pelo orfanato, que teriam defendido mudanças no estatuto referente à destinação do patrimônio; o terreno de 115 mil metros quadrados no entorno da sede e outras propriedades menores. A provedoria da Casa de Caridade Leopoldinense, que tinha à frente José Valverde Alves, defendeu o registrado nos estatutos originais de que uma vez extinto o orfanato, seu patrimônio seria revertido para a Casa de Caridade Leopoldinense, o que acabou ocorrendo em 2013.
Recentemente o hospital colocou à venda parte do terreno, mas ao que parece, não apareceram interessados.
Mesmo muito deteriorado, não é impossivel visualizar a reconstituição do imóvel e do seu entorno. Ali daria um lindo parque, com trilhas de caminhada entre outros atrativos, quem sabe até gerando renda para o hospital. Poderia ser a sede de algum órgão governamental ou outra destinação que não destrua o visual das encostas do Morro do Cruzeiro que deveria ser tombada como patrimônio natural.
Enquanto não é decidido o que fazer no local, resta relembar sua história.
Mas mexer num passado difícil de abandono e de miséria não é fácil pra muitos e é compreensível que poucas pessoas se disponham a falar. É mais fácil reconstituir a história do orfanato através de depoimentos espontâneos de quem estudou no pré-primário que lá funcionava, de antigos funcionários ou amigos dos residentes.
Lembranças do Orfanato
Rosely Jesus- Atualmente morando em Varginha Eu morava lá na época da Tia Nega, ela era branca do cabelo branquinho e chamava Zeferina Cardozo Maia.(Casada com Chico Maia). A Luzia era da minha época, como gostava dela. Que saudade imensa! Gostaria tanto saber o paradeiro dela. Eu lembro que a Tia Nega morreu no nossos braços.
Vicentina Oliveira, uma das últimas moradoras do orfanato Fui morar lá no ano 2000, ao nove anos de idade e sai do orfanato (Já em outra sede) em 2012. Uma coisa que me marcou é que cada crianca tinha um padrinho, que no final do ano trazia presentes e passavam o dia inteiro lá com a gente. Saudades também que eu tenho lá, era dos pés jabuticabas que a gente, podia subir e comer. Eu só tenho a agradecer o fato de ter sido resgatada e ter ido morar lá no orfanato. Hoje eu tenho uma familia linda.