Numa época em que os gêneros masculino e feminino – macho é macho e fêmea é fêmea – tinham que ser “respeitados”, ficou definido que as barbearias seriam ambientes exclusivamente masculinos e os cabelereiros, femininos.
Àquela época não podiam ser “confundidos” barbeiros e cabelereiros... cada qual no seu lugar.
Cabelereiros, homens, naquela época, só me lembro de dois: O Sr. Mendonça, pai do Tuzinho, Juamiro Mendonça, e o Sr. Correia, ambos com salões na Rua Cotegipe.
Já barbeiros, havia muitos, tais como Sr. Osório Mendonça; Deusdedith; Delvoux; José Parreira; Fizinho; Oldemar Montenari; Jair; e, dentre eles, o Natinho.
Natinho trabalhava na Rua Cotegipe, numa loja térrea da residência do Sr. Otaviano Toledo; sua clientela era diversificada, e a todos ele atendia com a mesma competência, presteza e educação, independentemente do status do atendido.
O que mais chamava atenção naquela barbearia era o nível das conversas ali trocadas.
Não eram ouvidas nem divulgadas fofocas ou más-línguas; falava-se de política; de cultura; e, até, de futebol... porém mantendo-se os respeitos mútuos entre os dialogadores... sem baixarias... xingamentos... faltas de educação.
Natinho exigia RESPEITO, daí sua barbearia deter clientela diversa e respeitosa.
Meu pai, Eduardo Santos, comportamento formal, sentia-se “em casa” naquela barbearia.
Lembro-me de haver um “lance” do Natinho, do qual jamais me esqueci, que, agora, registro nesta crônica.
Natinho era fumante e, como todo fumante, refugava quaisquer críticas àquele vício e com ele convivia no dia a dia, plantando malefícios à saúde.
Tempo vai, tempo vem, não sei o porquê, certo dia Natinho resolve parar de fumar.
Atendendo um cliente; cigarro aceso no cinzeiro; Natinho, como que comprometendo-se consigo e com os clientes à espera de atendimento, exclama, em voz pausada e segura:
- Neste momento PARO DE FUMAR PARA SEMPRE!E esmaga o derradeiro cigarro no cinzeiro...
E, parou!!! Tempos depois, contratado pela extinta Caixa Econômica de Minas Gerais, para tristeza dos clientes, fechou sua barbearia e assumiu, com garbo, a nova atividade.
NATINHO era e é apelido; origem?... não sei; seu nome?...nunca me preocupei em sabê-lo; quem me informou seu nome foi o Luiz Otávio Meneghite, porém, tenho certeza de que o cidadão educado, competente, trabalhador, estudioso, batizado e registrado como Sebastião Manoel Campos, será - para sempre, em nossas memórias, causos e vivências – lembrado, simplesmente, como NATINHO.ABRAÇÃO PROCÊ!!!
Edson Gomes Santos, Divinópolis, jan/2020