02/07/2020 às 22h24min - Atualizada em 02/07/2020 às 22h24min

A CULPA É DO KIKO

No Rio de Janeiro, agora no primeiro mês de 2016, era manhã em que não chovia e o tênue sol não convidava à praia. Já tendo lido até as propagandas do jornal, resolvi “bater pernas” e, aproveitando, pesquisar, quase que por diversão, o preço de um único medicamento a mim receitado na véspera.

Na rua Voluntários da Pátria, em Botafogo, perto de minha morada carioca, há, pelo menos, 20 (vinte) farmácias.  Caneta e papel à mão, desjejum bem feito, fui cumprir minha “árdua” missão.

Numa das farmácias, a atendente, de simpatia insuperável e estonteante beleza física, proferiu frase de imensa feiura: “se você encontrar preço mais baixo em outro lugar, volte aqui que lhe faremos o mesmo preço”. Quando me dei conta já havia retrucado: “se vocês têm preço menos salgado, por que não o informaram de uma vez? Por que motivo eu voltaria aqui para lhes dar a preferência? Se podem vender por menos, digam logo o menor preço”.

Em outra farmácia, o vendedor, alto e esguio, olhando-me de cima para baixo, parecendo estar aborrecido ao ver minhas anotações, abriu o catálogo de preços, fez contas em máquina portátil de calcular e, já com cara de bonzinho, informou: “o preço é xis, mas com um desconto que vou lhe dar, vai sair por y”. E, parecendo sentir-se superior, completou: “se você fosse cliente cadastrado poderia lhe fazer um preço melhor ainda”.

Havia também variações no preço se o pagamento fosse em dinheiro ou no cartão; em nenhum lugar se aceitava cheque.

Fim da novela: o mesmo medicamento, do mesmo laboratório farmacêutico, com a mesma dosagem de miligramas e com a embalagem contendo a mesma quantidade de comprimidos, apresentou preços que tiveram oscilação de mais de 200 %, isto mesmo, mais de duzentos por cento! Então, tendo que decidir entre pagar R$ 26,99 (quase 27 reais) e R$ 8,62 (menos de 9 reais), que decisão quem me lê pensa que tomei? Decidi que, quando não houver urgência, sempre vou olhar preço em mais de um lugar.   

Alerta para quem se convenceu de que se deve olhar preço:  “nem sempre a gasolina mais barata é a melhor opção”.

As pessoas, às vezes, ficam pensando que seu carma é ter pouca sobra de dinheiro, mas nunca se lembram de ter calma e pesquisar preços. Quanto menos se tem, mais falta. Li, não sei onde e transcrevo:  “a pulga mais gorda dá no cachorro mais magro". 

Se o hábito de pesquisar preços se tornasse realidade em todas as pessoas, e para toda espécie de compra, possivelmente, no fim do mês, far-se-ia considerável economia financeira. A comodidade, entretanto, sempre comanda as ações dos seres humanos.

“Olho vivo” é necessidade. É preciso tomar cuidado com a malandragem.  Tradicionalmente, há pelo menos 70 anos, vendem-se ovos em cartelas que comportam 12 ovos, isto é, uma dúzia. Agora, no Rio, em mais de um lugar, vi cartelas fabricadas para conterem apenas 10 (dez) ovos. O preço não aumenta, mas a quantidade diminui. E os ovos ficam expostos sob uma placa antiga em que apenas se muda o preço e ali se lê “ovos, xis reais a dúzia”. Então, a tal dúzia é de dez ovos.

Em Leopoldina, belo banner anunciava um vistoso cheeseburger, em que não apenas a alface e o tomate, mas também o bife de carne moída e o queijo sobravam pelos lados. Uma pessoa faminta, diante do belíssimo e até excitante visual, vendo o aparentemente suculento e saudável cheeseburger, poderia até ser levada a querer lamber o banner, mas, no meu caso, apenas me preparei para degustar a “oitava maravilha do mundo” quando ela chegasse até mim.

Feita a encomenda por telefone, o que chegou não correspondia à visão que eu tanto apreciara no banner. Decepcionado, e com a certeza de que quem me vendeu não estava de sacanagem, telefonei, comentando que, ao contrário do que enxerguei no comercial, a carne e o queijo estavam diminutos e nem apareciam nas bordas.

Ouvi: “não tenho culpa, pois a carne e o queijo são sempre do mesmo tamanho e os      ingredientes são sempre iguais. A padaria é que fez o pão muito grande e, então, a culpa não é minha, a culpa é do Kiko”.

Em 22.02.2016

Nelsinho
Publicado na edição299 do jornal Leopoldinense.
 
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