24/12/2020 às 15h47min - Atualizada em 24/12/2020 às 15h47min

SEU DESEJO ERA VOAR – Aeroporto da Lajinha – Leopoldina – Anos 1980 –

Aeroporto da Laginha (Foto: Álbum de família de Serginho do Rock)
Dizem que as pessoas que se habilitam aviadores elegem tal atividade como essencial nos seus viveres.

Lembro-me do caso de um leopoldinense, aviador formado no antigo Aeroclube de Leopoldina e experiente piloto, que, sido preso sob acusação de pilotar aeronave contendo contrabando, corria o risco de perder sua habilitação de pilotagem – brevê – caso provada a acusação.

Ele afirmava àqueles que o conheciam que preferia morrer a viver sem poder voar.

Antigamente o Aeroporto da Lajinha recebia os aviões DC3 da antiga empresa NAB- Navegação Aérea Brasileira numa das suas escalas interioranas; já nos anos 1980 começaram por lá aparecer as máquinas aéreas ultraleves, tornando o prazer de voar mais abrangente em virtude dos custos, acessíveis, daquelas pequenas aeronaves. 

Certa feita, a convite e em companhia do mano Antonio, fomos até o Aeroporto da Lajinha para ele ver os dois “amigos voadores” de Nova Friburgo, cujos ultraleves foram avistados quando passaram voando por sobre Leopoldina.

Lá chegando fomos calorosamente recebidos pelos pilotos; conversamos; examinei as máquinas de perto; fiz perguntas; tive dúvidas esclarecidas; um técnico e fraternal encontro; porém um deles, Florian, àquela época com cerca de 60 anos, despertou-me a atenção por suas peculiares história e trajetória de vida, pois ele era europeu e amava voar.

Nascido na Suíça, próximo à fronteira com a Itália, quando viu um avião pela primeira vez “sentiu” que seu destino seria voar; dali então, toda literatura que versasse sobre aviões, mecânica aeronáutica, voos, etc., ele as “devorava”; acumulava conhecimentos que, no futuro, certamente fariam a diferença; visitava aeródromos italianos; algumas vezes conseguia voar “de carona”; foi aprendendo e percorrendo os meandros da navegação aérea de então; tornando-se, quase, um piloto autodidata.

Estoura a Segunda Guerra; neutralidade Suíça; Florian alista-se na Força Aérea Italiana.

O treinamento?  Com a experiência didaticamente acumulada, em pouco tempo assumiu o assento de piloto e partiu para a frente de batalha, indo lutar na e contra a Rússia, em conjunto com a Luftwaffe, Força Aérea Alemã.

Abatido e aprisionado pelos russos, obteve integração à Força Aérea Russa como voluntário e suíço, passando a combater os alemães; mais uma vez abatido, foi aprisionado pelos alemães que, ante sua passagem pela Força Aérea Italiana, sua nacionalidade suíça e carência de pilotos alemães treinados, foi integrado à Luftwaffe para operações em terra e voos de suprimentos até próximo do final da guerra, quando sua base aérea foi desativada e ele, sob a condição de suíço, foi desligado da Luftwaffe; retornou para a Suíça; migrou para o Brasil; no Rio tinha uma empresa produtora de válvulas para dutos industriais.

Indaguei-o se havia algo de ideologia nos alistamentos nas aéreas italiana, russa e alemã, ao que ele, sorrindo e com o olhar de saudades daqueles tempos, me respondeu:

- O MEU DESEJO ERA VOAR... E VOEI!!!

 Assim ele me contou e a vocês, ora relato.

Edson Gomes Santos, Divinópolis, 08/2020

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