23/06/2022 às 09h00min - Atualizada em 23/06/2022 às 09h00min

O PÁLIO DO BISPO – Piacatuba-MG –

Edson Gomes Santos
O simbolismo é uma forma de comunicação que, muitas vezes, a maioria das pessoas não “iniciadas” no que é comunicado, fica sem entender seu ou seus significados, por exemplo, nas vestimentas sacerdotais as cores, suas tonalidades, locais onde situam os símbolos, formas, etc., tudo isso tem significados que, aos leigos e não “iniciados”, passam como despercebidos, ou melhor, como não entendidos.

Pálio é um tipo de toldo fixado num ou mais mastros, utilizado em procissões, e conduzido por fiéis ao alto sobre o Bispo durante o cortejo, como sinal de distinção e honra.  

Piacatuba, distrito de Leopoldina, é um local agradabilíssimo tanto pelo clima, quanto pelos seus moradores, além de uma arquitetura bela e conservada que remete ao século 19; é conhecida e reverenciada a lenda da Cruz Queimada, até hoje preservada no monumento a ela erigido e dedicado, localizado na praça distrital principal; e também, anualmente, são realizados os Festivais Gastronômico e da Viola.

Povo pio, católico, que durante muitos e muitos anos teve como guia espiritual o padre Paulo Fadda, italiano por nascença e piacatubense por opção e de coração!

Lá, até hoje, são realizadas concorridas cerimônias religiosas, sendo o povo nativo o grande baluarte para suas realizações e sucesso, e, num desses eventos católicos, Piacatuba receberia a visita do bispo diocesano, a quem caberia a condução dos atos religiosos tanto na igreja, quanto na procissão... que seria o ápice da data.

A comunidade “ferveu”. Todos queriam trabalhar e se desdobravam para serem notados e escolhidos para qualquer que fosse a atividade durante os festejos, inclusive o Tão da Gaída, piacatubense da gema; estatura mediana; sorriso largo; dentes alvos e olhos espertos emoldurados por sua pele negra; quase que ele poderia ser confundido com um anjo quando atuava ajudando os padres nas missas, tal sua dedicação àqueles momentos.

Mas, para a procissão, Tão da Gaída, foi escalado para um posto de destaque e visibilidade:

Desfilaria logo atrás do bispo, ajudando-o, conduzindo em suas mãos o pálio do Bispo, que nada mais é do que um mastro com um toldo, conduzido sobre o Bispo durante o cortejo.

E lá foi ele, todo faceiro, orgulhoso e vitorioso, carregando o pálio do Bispo; finda a procissão reúne-se com os amigos na praça, em frente à Pousada do Tassari; papo vai, papo vem; e alguém o provoca:

- Tão, gostei de te ver na procissão segurando o pálio do Bispo e o bispo parecia muito feliz.

Tão, sem saber o que era um pálio, refugou no ato:

- E eu lá sou homem de segurar o pálio de alguém?... Ainda que seja do bispo!... Sai de mim!

A turma presente não explicando o que seria um pálio, gargalhou até às lágrimas.
 
Pois é... Tão, ainda hoje, anos depois, é zoado por ter segurado e carregado o pálio do Bispo.

- “Assim me contaram. Aqui vos contei”, conforme dizia Luiz da Câmara Cascudo, maior folclorista brasileiro, nos encerramentos dos “causos” a ele relatados e registrados.
                                                                           
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