02/03/2015 às 08h40min - Atualizada em 02/03/2015 às 08h40min

IRRADIAÇÃO

A IMPRENSA EM LEOPOLDINA (MG) ENTRE 1879 E 1899 - X

Luja Machado e Nilza Cantoni

Publicado no jornal Leopoldinense de 16 de dezembro de 2014

O Trem de História volta aos trilhos da Imprensa em Leopoldina no final do século XIX e fala hoje do jornal “Irradiação”, o mais claramente político dos periódicos de Leopoldina daquela época.

Sua história começa pela informação de Xavier da Veiga, em “A Imprensa em Minas Gerais” de que a sua primeira edição tem a data de 25 de fevereiro de 1888 e sabe-se que ele sobreviveu até 1890. Isto é, nasceu alguns meses antes da assinatura da Lei que regulamentou uma prática que já ocorria em Leopoldina desde o início da década: a da libertação de escravos e, circulou até um pouco além da Proclamação da República.

Este jornal era de propriedade das filhas de seu redator, Theophilo Domingues Alves Ribeiro, advogado natural de Aracati, no Ceará, que foi sócio da Cia Engenho Central Aracaty, localizada nas proximidades da Estação de Vista Alegre, no município de Leopoldina, onde se beneficiava a cana de açúcar.

Em 1890 Theofilo foi eleito presidente da Companhia Vila Rica, em Ouro Preto e vendeu o jornal para Sérvulo Fontes & Barreto e não se sabe se o periódico continuou em circulação.

Infelizmente não foi possível analisar os primeiros 39 números deste jornal por não terem sido preservados. Mas da leitura das edições encontradas na Biblioteca Nacional se constata ter sido o único jornal de Leopoldina a se enquadrar na hipótese de Nélson Werneck Sodré a respeito da disseminação das ideias republicanas. Em todas as nove edições compulsadas há notícia do partido. E o próprio subtítulo indica que a folha era um órgão republicano. Mas além desta posição, assim como os demais periódicos este também aceitava colaborações literárias como as de Davi Madeira e Dilermando Cruz que, ainda estudantes do Ateneu Leopoldinense, publicavam ali as suas poesias, conforme relata Cassio de Rezende em “Memórias de um Médico”.

Importante esclarecer que as ideias republicanas atraiam leopoldinenses há alguns anos, não sendo uma consequência do fim da escravidão por decreto, como o senso comum acreditava.

Francisco de Paula Ferreira de Rezende, em seu livro “Minhas Recordações”, conta que no final de 1864 adquiriu a fazenda Córrego da Onça e a crismou com o nome de Filadélfia, “a grande cidade em que se proclamou a primeira das repúblicas americanas para recordar essa república pela qual vivia sempre a suspirar”. E disse mais: “razão porque os meus últimos filhos se chamaram Cássio, Flamínio e Manlio, grandes republicanos dos bons tempos de Roma”.  

Como Rezende, outros republicanos viveram em Leopoldina antes de 1889. Embora não se tenha indícios claros a respeito da convicção republicana de todos os colaboradores do jornal Irradiação, é de se supor que se não o fossem não teriam aceitado o convite de um jornal que veio a luz com o objetivo de divulgar as vantagens deste sistema de governo. O fato torna-se mais sugestivo quando observamos na lista de colaboradores da coluna Literatura e Ciências, nomes de notórios opositores da monarquia. Nela estão, por exemplo: Antônio Augusto de Lima (Juiz Municipal em Leopoldina, depois Promotor Público em Serra-ES, Presidente de Minas em 1891, Poeta, Membro da Academia Brasileira de Letras em 1903); C. Drummond (há um literato com este sobrenome em jornais republicanos do Rio); Custódio de Almeida Magalhães (Advogado em Leopoldina); Estevam Lobo; Luiz de França Vianna (advogado em Leopoldina, concunhado do redator deste jornal); J. Lobo; José James Zig Zag (farmacêutico e oficial do judiciário em Leopoldina); Martiniano de Souza Lintz (Advogado, Juiz Municipal e Professor em Leopoldina); Octavio Esteves Ottoni (médico e político em Leopoldina); Theophilo A. Rodrigues; e, Vaz Pinto (nesta época existia no Rio um juiz federal, republicano, chamado Henrique Vaz Pinto Coelho).

É certo que esta lista não esgota os nomes de republicanos em Leopoldina. Outros tantos opositores da monarquia, menos conhecidos, também colaboraram com o jornal e escreveram em defesa dos ideais republicanos. Mas extrapolou a capacidade do vagão de hoje e o assunto precisa continuar. Resta, então, controlar a lenha na caldeira para que o Trem de História tenha tempo para organizar a carga e continuar falando sobre o mesmo jornal, no início do próximo ano. Até lá, um Feliz Natal e Próspero Ano Novo a todos. 

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