27/04/2023 às 20h17min - Atualizada em 27/04/2023 às 20h17min

A lenda do Feijão Cru!

Paulo Lúcio Carteirinho
Pintura do alemão Maximilian zu Wied-Neuwied, do início do século XIX, mostra indígenas Puris em atividades cotidianas (Reprodução / Centro de Memória Puri)
Leopoldina está completando 169 anos de existência. A cidade começou em forma de um arraial, denominado Arraial do Feijão Cru. Reza a lenda que o cozinheiro dos tropeiros ao preparar o feijão caiu no sono e com isso o fogo se apagou fazendo com que o feijão ficasse cru. O mesmo, acabou sendo jogado no rio que passou a chamado de Ribeirão Feijão Cru, assim como o local.
 
Essa é uma das versões que contam a história do surgimento da cidade. Sendo a mais contada, porém, existem outras. Tem uma que eu gosto mais, é pouco contada, poucos conhecem, por isso resolvi contá-la.
 
Essa história começa pelos povos originários, vale destacar que Leopoldina era habitada por três tribos indígenas: puris, coropós e coroados. Eles viviam espalhados por todo território, que era grande, muito grande. Cidades como Cataguases, Argirita, Laranjal, Palma... não existiam, era um único território ocupado por essas tribos.
 
Essas tribos disputavam entre si o controle desse grande território. Uma convivência nada amistosa, de muitos conflitos, batalhas e guerras. Essas tribos vivam sem ser incomodadas por outros povos. Até que começou o ciclo do ouro, fazendo com esse território, até então pouco explorado, passasse a ser explorado.
 
A exploração se deu mesmo onde hoje fica a cidade de Ouro Preto, Diamantina, Sabará... Todo o ouro encontrado deveria seguir para Portugal, donos do Brasil. Para que isso fosse possível, foi construída uma estrada, denominada Estrada Real, que começava em Diamantina, passando por outras cidades que tinham a exploração do outro, seguindo para o Rio de Janeiro, sendo dividida em duas, uma dava no porto de Parati e outra no porto da capital.
 
Acontece que essa estrada não era a única por onde o ouro circulava. Haviam outras estradas por onde o ouro passava, no caso, o ouro contrabandeado. Uma dessas estradas era justamente por aqui, onde hoje é Leopoldina, devido ser próxima ao Rio de Janeiro, local que tanto o ouro real como o contrabandeado iria parar, onde de lá seguiam para a Europa e outros continentes. O ouro real para Portugal e o contrabandeado para Portugal e outros países.
 
Pois bem, fazer esse ouro contrabandeado chegar até o Rio de Janeiro, assim como outros produtos, levados tanto por contrabandistas e quanto por tropeiros, não era nada fácil. Afinal, passar por essas terras não era missão fácil, devido ser território ocupado pelas tribos indígenas que citei acima.
 
Dessa forma, para passar por aqui tinha que tomar muito cuidado. Inclusive, na hora de se alimentar. Nessa época o feijão era um dos alimentos mais comum, principalmente, pelos viajantes. Afinal, além dele ser muito delicioso, além de nutritivo, era fácil carregá-lo, bastava um pouco de caroço, levado inclusive no bolso.  Para fazê-lo, bastava apenas de um pouco de água. O maior problema era cozinhá-lo, afinal, demorava muito.

Aí que tá, cozinhar o feijão já não era nada fácil em local tranquilo, imagina em local conflituoso. Quem passava por aqui não podia chamar muita atenção dos povos originários, correndo risco de serem descobertos e com isso mortos ou capturados.

Para cozinhar o feijão por aqui, de modo alimentar a tropa, era necessário muita habilidade. Já que o fogo não podia ficar acesso por muito tempo, de modo os povos originários verem. Dessa forma, tinha que acender um pouco e apagá-lo logo em seguida, o que fazia com que o feijão nunca cozinhasse. Por causa disso, esse local ficou conhecido como Feijão Cru.

Gosto dessa versão, pois ela nos faz lembrar que essa terra era habitada por povos originários, poucos falados e valorizados. Acho estranho uma cidade fazer de tudo para esconder isso, repetindo uma lenda que faz questão de contar uma outra história, criada  sabe se lá por quem e que finge a gente acreditar que essa terra não tinha donos. Talvez a intenção dessa lenda seja essa mesma.
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