03/12/2022 às 21h13min - Atualizada em 03/12/2022 às 21h13min

De volta ao ponto de partida

Estação de Leopoldina em 1954 (Foto Arvedo)
Hoje o Trem de História volta à Estação Leopoldina, de onde partiu na década de 1990 para conhecer cerca de seis mil imigrantes europeus e asiáticos que viveram no município entre a segunda metade do século XIX e os anos de 1920. Em mais de uma centena de viagens, muitas anteriores à chegada da ferrovia, foi possível recolher informações variadas e iniciar um cadastro que hoje conta com 4.046 imigrantes italianos documentados, além de 183 pessoas de origem açoriana, egípcia, francesa, germânica, espanhola, libanesa, portuguesa continental, síria ou turca. Ressalte-se que, ao abordar essa trajetória, corre-se o risco da redução a números ou percentuais que podem ser modificados a cada novo documento encontrado.

Depois do projeto sobre os imigrantes, que culminou com a festa pelo Centenário da Colônia Agrícola da Constança em 2010, o Trem de História começou a transportar informações sobre A Imprensa em Leopoldina no período de 1879 a 1899 e, logo em seguida, a estadia do poeta Augusto dos Anjos em nossa cidade. O assunto seguinte foram os Expedicionários Leopoldinenses, soldados que participaram da Segunda Guerra Mundial.

Entre 2016 e o início de 2019, diversos Personagens Leopoldinenses viajaram pelos trilhos, trazendo na bagagem informações sobre suas atividades e seus familiares. Sucederam-lhes os Italianos em Leopoldina, numa revisão e atualização da pesquisa como forma de comemorar os 110 anos da Colônia em 2020.

A etapa seguinte, iniciada em abril de 2020, abordou os Pioneiros de Leopoldina. Foram considerados pioneiros os proprietários que se estabeleceram no Feijão Cru desde a primeira década dos oitocentos, que registraram suas terras em 1856 ou foram citados em processos judiciais abertos até 1859. Etapa na qual foram citadas fazendas estabelecidas em diversos pontos do município, como a até então desconhecida Santana dos Miranda, que abrangia o território onde se instalou a estação de Vista Alegre, até a também esquecida Boa Vista dos Barbosa, da qual uma pequena parte encontrava-se dividida, em 1924, em dezenas de pequenos sítios no início da estrada para Abaíba, local outrora conhecido como Volta da Cobra.

Na mais recente viagem, um artista português foi trazido pelo Trem de História não por ser proprietário pioneiro, mas por ser o pioneiro escultor e entalhador de que se tem notícia em Leopoldina. Inicialmente, a ideia era que ele pegasse o Trem em julho de 2020, quando se completou o centenário de sua morte. Não tendo sido possível concluir a pesquisa na época, viajou no mês passado, quando se completaram 175 anos de seu nascimento.

Será necessário um novo intervalo. Uma parada. Até agora são 234 proprietários pioneiros, distribuídos em 125 propriedades catalogadas, das quais menos de 30% fecharam a bagagem para viajar. Um projeto dessa envergadura depende de inúmeras fontes e análises que, muitas vezes, indicam a necessidade de consultas complementares. Não basta divulgar seus nomes porque, tal como ocorreu na Idade Média, é necessário agregar um sobrenome ou nome explicativo para individualização dos homônimos. Se lá no passado o sobrenome distinguia os filhos do Rodrigo dos filhos do Fernando, acrescentando aos seus nomes o sobrenome Rodrigues e o Fernandes, para as fazendas é preciso identificá-las pelos pioneiros que as construíram e também pelas divisões que geraram suas sucessoras, muitas delas ainda existentes.

Assim como Nietzsche estudou a origem dos princípios morais que regem o ocidente para compor a sua Genealogia da Moral[1], e Sinval Santiago[2] organizou os normativos legais que determinaram os desmembramentos do território de Rio Pomba e publicou a genealogia dos 73 municípios resultantes, os autores da série analisaram algumas centenas de fontes documentais para compor a genealogia das Fazendas Pioneiras de Leopoldina. Grande parte delas está profundamente imbricada na trajetória de fazendas vizinhas, sobre as quais ainda há fontes por analisar. Sendo assim, o Trem de História vai agora para a oficina de manutenção, outrora sediada ali no canto da praça João XXIII, e espera retomar as atividades tão logo o trabalho seja concluído.
Até breve!
 
[1] NIETZSCHE, Friedrich. Genealogia da Moral, uma Polêmica. Leipizig: s.n., 1887
[2] SANTIAGO, Sinval. Município de Rio Pomba: Síntese Histórica. Belo Horizonte: Imprensa Oficial, 1991. p. 489
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