10/12/2023 às 21h55min - Atualizada em 10/12/2023 às 21h55min

191 - A FAZENDA SANTA MARIA E SEUS PROPRIETÁRIOS

Luja Machado e Nilza Cantoni
A história da Fazenda Santa Maria começa com a chegada de Francisco José de Almeida Ramos à região do Feijão Cru, entre 1831 e 1835. Ali chegou acompanhado da esposa Rita Francisca de Jesus e das filhas Maria de Almeida Ramos e Felisbina Carolina de Almeida esta, já casada com José Joaquim Pereira com quem teve a filha Maria do Carmo.

Francisco José fixou-se no 3º quarteirão do Feijão Cru, formando a fazenda Santa Maria numa área de 430 hectares, mais ou menos 89 alqueires de 48.400 m2 de terras que mais tarde viriam a fazer parte do novo distrito de Nossa Senhora da Piedade, hoje Piacatuba.

Sua filha Felisbina e o marido, José Joaquim, se estabeleceram no 4º quarteirão onde formaram a fazenda Sossego em 491 hectares de terras, equivalentes a mais ou menos 101 alqueires de 48.400 m2. Mais tarde, talvez pelo ano de 1850, tornou-se confrontante da então fazenda Bom Retiro, formada por Francisco Antônio de Almeida e Gama.

Por volta de 1848, Francisco José vendeu 108 hectares da fazenda Santa Maria para Bernardo José Gonçalves Montes. E em 1860, aproximadamente, vendeu outra parte da fazenda Santa Maria para José Furtado de Mendonça.

Vale registrar que, segundo alguns estudiosos, o casarão existente no centro de Piacatuba, que tem encimado um brasão com as letras JFM, possivelmente iniciais de José Furtado de Mendonça, teria sido propriedade de Francisco José de Almeida Ramos e seria o imóvel citado no inventário de sua primeira mulher, Rita Francisca de Jesus.

Na década de 1850 faleceram as duas filhas de Francisco José: Maria de Almeida Ramos e Felisbina Carolina de Almeida.

Maria de Almeida Ramos, que se casara com Francisco Nunes de Moraes, deixou um único filho, José Nunes de Almeida Ramos, que foi casado com Rita Vieira. Esse filho, em 1864, segundo procuração para venda de sua legítima materna, residia em Cachoeiro do Itapemirim-ES. E informes orais dão conta de que José Nunes viveu em Manhumirim-MG, onde nasceu sua filha Elvira Nunes. Esta Elvira foi mãe de Rita Miranda, nascida em Manhumirim em 1914 e que se casou com o Dr. Jairo Salgado Gama, médico e ex-prefeito de Leopoldina e, em segundas núpcias, com Osmar Lacerda França, “Liliu”, também ex-prefeito da cidade.

Importante observar que o município de Iúna-ES, faz divisa com o município de Manhumirim-MG e que, na época em que José Nunes vendeu sua herança materna, Iúna-ES fazia parte do território de Cachoeiro do Itapemirim-ES, do qual só veio a ser desmembrada em 1890. E só em 1924 é que Manhumirim se emancipou de Manhuaçu-MG.

A outra filha de Francisco José, Felisbina Carolina de Almeida cc José Joaquim Pereira, deixou cinco filhos: Maria do Carmo cc Reginaldo de Souza Werneck; Francisco de Assis cc Carolina Leopoldina de Jesus; José Joaquim cc Constança Pereira de Assunção; Antônio Amâncio cc Maria José de Almeida; e, Firmo Augusto Bibiano Antunes Pereira cc Bibiana Augusta de Paiva.

Francisco José ficou viúvo em janeiro de 1856 e se casou em segundas núpcias com Maria Cândida, com quem não teve filhos.

Segundo a primeira divisão da fazenda Santa Maria, ocorrida em 1864, “entre os demais bens que pertenceram ao primeiro casal do Tenente Francisco José de Almeida Ramos, estava a fazenda Santa Maria, situada na margem do rio Pardo”, cuja maior parte foi adquirida por Joaquim Antônio Corrêa e sua mulher Constança Claudina de Paula e uma pequena porção pertencia a Antônio Maurício Barbosa.

Antônio Maurício era casado com Tereza Joaquina de Jesus, viúva de José Carlos de Oliveira. José Carlos chegou ao Feijão Cru na mesma época em que chegou Francisco José e formou a fazenda Alegria, no 2º quarteirão, em parte das terras da fazenda Rio Pardo, formada por seu pai Vital Antônio de Oliveira. E sua mãe, Maria Narciza de Jesus, era irmã de Rita Esméria de Jesus, mulher do “comendador” Manoel Antônio de Almeida, pioneiro que formou a fazenda Feijão Cru.



No inventário de Tereza Joaquina de Jesus, primeira mulher de Antônio Maurício Barbosa, falecida em janeiro de 1863, entre outros bens constavam pouco mais de 32 hectares da fazenda Santa Maria.

Na primeira divisão da fazenda Santa Maria, em 1864, além do citado Antônio Maurício Barbosa havia outros condôminos no imóvel. Entre eles, João Paulino Barbosa e Francisco José Barbosa de Miranda, ambos genros de José Carlos de Oliveira.

Em 1918, no inventário de Antonio Pires Veloso, chama a atenção um fato curioso. Nele observa-se que foi considerada a medida do alqueire de 3,63 hectares e não o de 4,84 hectares como era habitual em Leopoldina. Desta forma, a área denominada fazenda Santa Maria era menor do que até então constava nas avaliações judiciais anteriores. Isto se deu a partir do inventário de Antônio Pires Veloso de Sá que havia comprado diversas sortes de terras como se verá a seguir.

Em 1871 ele comprou de Pedro Antônio Furtado uma sorte de terras no sítio Entalhador que fora de Domingos Henrique de Gusmão. Rastreando as fontes sobre tal propriedade, conclui-se que Domingos formou sua propriedade na última década de vida. Ele faleceu em 1868 e a primeira compra de terras que fez no distrito de Piacatuba foi em 1862, de Hipólito Pereira da Silva, 12 hectares da fazenda Fortaleza. Posteriormente Domingos comprou o resto da fazenda, mas a medida informada é bem maior do que a área total da propriedade.

Em 1873, Antônio Pires Veloso de Sá comprou, de Vital Ignacio de Moraes, uma sorte de terras na fazenda Santa Maria. A mulher de Vital era filha de José Carlos de Oliveira acima citado. A compra teria sido de uma parte dos 32 hectares citados no inventário dela.

Ainda em 1873 ele compru a legítima materna de José Carlos de Oliveira Pires na fazenda Santa Maria.  O vendedor era cunhado de Vital Ignacio de Moraes e, portanto, a compra seria de uma segunda parte dos 32 hectares.

Em 1892, comprou 3.600 ares de terras do sítio Entalhador, na fazenda Santa Maria. Esta informação corrobora a hipótese de localização do Entalhador conforme indicado na compra de 1871.

Considerando que Antônio Pires Veloso de Sá adquiriu outras sortes de terras da fazenda Rio Pardo, chega-se bem perto da medida citada no inventário: 202 hectares ou 55 alqueires de 3,63 m2, ou 41 alqueires de 4,84 m2, ou 46% da área original da fazenda Santa Maria.

A nova divisão da fazenda Santa Maria foi realizada 19 anos depois da morte de Antônio Pires Veloso de Sá. Neste período foram realizadas diversas vendas e permutas pelos herdeiros.  De tal forma que, ao final do processo, a Santa Maria estava dividida entre os seguintes condôminos: 1) Belisário José Barbosa, 11 hectares 13 ares e 75 centiares; 2)  Carlota Pires Vieira, 18 hectares 39 ares e 75 centiares; 3) Eduardo José de Carvalho, Evaristo de Carvalho e José Ambrósio de Carvalho de 14 hectares e 52 ares; 4) Etelvino Pires Vieira, 21 hectares 87 ares 26 centiares; 5) Guilhermina Balbina de Melo Campos, 22 hectares 27 ares e 50 centiares; 6) Joaquim Pires Vieira, 29 hectares 53 ares e 50 centiares; 7) José Pires Veloso Vieira e sua filha Maria, 22 hectares 18 ares e 24 centiares; 8) Manuel Pires Vieira, 25 hectares 65 ares e 75 centiares; 9) Olímpio Santos, 9 hectares 68 ares; 10) Oriel Pacheco de Rezende, 23 hectares 23 ares e 75 centiares.
 
Fontes utilizadas:
Arquivo Permanente do Tribunal de Justiça de Minas Gerais - COARPE
  • Processo 38402671 inventário de Tereza Maria de Jesus
  • Processo 38402675 inventário de Vital Antonio de Oliveira
  • Processo 38402684 inventário de Tereza Joaquina de Jesus
  • Processo 38402993 Divisão da fazenda Santa Maria
  • Processo 38403280 inventário de José Carlos de Oliveira
  • Processo 38403636 Divisão da Fazenda Sossego
  • Processo 38404068 inventário de Rita Francisca de Jesus
  • Processo 38404107 inventário de Domingos Henriques de Gusmão
  • Processo 38404173 inventário de Maria Narciza de Jesus
  • Processo 38404389 inventário de Antonio Maurício Barbosa
  • Processo 38404731 Divisão da fazenda Rio Pardo, Piacatuba
  • Processo 38404881 inventário de Antonio Pires Vellozo de Sá
  • Processo 38409713 testamento de Domingos Henriques de Gusmão
  • Processo 43911286 inventário de José de Almeida Ramos e Ritta Maria de Santo Ignacio
Arquivo Público Mineiro
  • Mapa da População do Feijão Cru 1835 CX 03 DOC 06 e 1843 CX 03 DOC 04
  • Qualificação de eleitores de São João Nepomuceno: São Sebastião do Feijão Cru, 1851 PP 11 cx 44 pct 30
  • Registro de Terras de Bom Jesus do Rio Pardo, TP 180
TEODORO, João José da Silva, Carta Topográfica dos Termos do Presídio, Pomba e São João Nepomuceno. Acervo da Biblioteca Nacional: 1847
Commissão Geographica e Geologica de Minas Geraes. Carta Geográfica de Cataguases folha nº 20 S2 E3. São Paulo, Cayeiras e Rio: Secção Cartographica da Companhia Melhoramentos (Weisflog Irmãos incorporada, 1926.).
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