08/05/2015 às 19h34min - Atualizada em 08/05/2015 às 19h34min

POR CONTA DO ANIVERSÁRIO DE EMANCIPAÇÃO

Luja Machado e Nilza Cantoni

Publicado no jornal Leopoldinense de 24 de abril de 2015

Maurício de Almeida Abreu, no artigo Sobre a Memória das Cidades, ressalta que memória é a capacidade de armazenagem e conservação de informações, elemento essencial da identidade de um lugar. Para ele, a memória de uma cidade é coletiva, compartilhada. E a memória coletiva é também uma corrente de pensamento contínuo, que retém do passado somente aquilo que ainda está vivo ou capaz de viver na consciência de um grupo. Ela está sempre se transformando porque os grupos que dela guardavam a lembrança vão desaparecendo. E quando isto acontece e não se quer perder uma lembrança, é comum e aconselhável que seja registrada, transformando-se então em memória histórica. Isto porque as memórias coletivas se eternizam muito mais em registros e documentos do que em outras formas materiais.

Lembramos, ainda, conforme nos ensinou Jacques Le Goff em História e Memória, que “o documento é monumento” porque é um registro feito pelo homem e que representará, para a sociedade que lhe suceder, uma visão de como funcionava à época em que foi produzido. O mesmo autor nos ensina que um documento é uma “roupagem, uma aparência, uma montagem” em torno de determinado acontecimento. Portanto, a memória histórica é construída e realimentada pelos registros e documentos que constituem os monumentos da história, os quais preservam a memória das cidades.

Esta é nossa intenção. Auxiliar na preservação da memória da cidade de Leopoldina através do registro no Jornal daquilo que pesquisamos. Por isto, hoje o Trem de História segue pelos trilhos das comemorações da emancipação do Feijão Cru em 27 de abril de 1854, relembrando um pouco do que se passou. E o faz pelo prazer de preservar a memória de uma cidade que desde 1877 tem o Trem na sua história, empresta o seu nome à história do Trem no Brasil e não pretende perder o Trem da História.

Tocando em frente, é necessário registrar que a mais antiga evidência da existência do povoado que deu origem a Leopoldina está no livro Município de Rio Pomba, de Sinval Santiago, na página 480, que se refere à criação do distrito do Feijão Cru pela Câmara Municipal do Pomba em 1831. Mas é bom lembrar que o Município do Pomba só foi instalado em 25 de agosto de 1832, o que contraria a informação de que a sua Câmara teria criado o Distrito do Feijão Cruz no ano anterior.

A favor de 1831 como indicativo da existência de um povoado no Feijão Cru temos as duas doações realizadas por Joaquim Ferreira Brito e sua mulher Joana Maria de Macedo, nos dias 01.06 e 20.11.1831. Por elas pode-se imaginar terem sido feitas para atender às normas para o requerimento de criação do distrito. A segunda delas, a doação de um terreno para a construção da Casa do Cura, reforçaria a suposição da existência de um arraial que procurava se organizar para a criação do distrito.

O que se tem como certo é que em 1843 já eram 213 as famílias (2.171 moradores) no distrito de São Sebastião do Feijão Cru. Muitas delas constituídas por filhos dos primeiros moradores, então já casados. E é a partir deste momento que se pode observar a provável existência de moradias dentro do território que foi doado para constituir o patrimônio de São Sebastião.

Em 1851 a população do Feijão Cru, um arraial elevado à condição de Freguesia, atingia quase 4.000 habitantes. Esta freguesia chega a 1854 com a realização do sonho de alguns antigos povoadores: consegue se libertar da subordinação, a que esteve sujeita até então, às sedes administrativas de Barbacena depois Rio Pomba, São João Nepomuceno e Mar de Espanha. Em 27 de abril daquele ano foi promulgada a Lei de Emancipação e em janeiro de 1855 foi instalada a Câmara Municipal da Vila Leopoldina.

Aqui é válido abrir parênteses para alguns comentários pertinentes.

Em Portugal, Vila ainda é um aglomerado urbano intermediário entre aldeia e cidade. No Brasil colonial, povoações eram elevadas a vilas, e essas a cidades, de acordo com o sistema português. Quando o arraial se tornava vila, passava a contar com uma câmara de vereadores, com direito de cobrar impostos e baixar posturas municipais. Recebia um juiz e instalava-se uma cadeia pública. Ao tempo da criação da Vila Leopoldina, já no Império, era este o sistema que funcionava no Brasil.

O título de Cidade era mais honorífico e pouco acrescentava em termos de organização política e administrativa. Em função disto, ensina Maurício de Abreu, muitos municípios criados no império e na colônia comemoram o dia da sua fundação como sendo o dia em que foram elevados a cidade, o que não é correto. Na verdade, eles alcançaram autonomia política no dia da criação da Vila. No caso de Leopoldina, o título de Cidade foi concedido pela Lei Mineira 1.116, de 16 de outubro de 1861, ano que está inscrito no atual Brasão do município para lembrar este fato.

Brasão do Município de Leopoldina

Brasão do Município de Leopoldina

A partir da emancipação e instalação da câmara municipal de Leopoldina, surgiram os primeiros arruamentos nas imediações da Igreja do Rosário. Possivelmente com as ruas Riachuelo – atual Joaquim Ferreira Brito; Direita – atual Rua Gabriel Magalhães; e, Rosário – atual Rua Tiradentes.

Trinta anos depois a Maria Fumaça da Estrada de Ferro da Leopoldina começou a espalhar trilhos e seu nome por boa parte do País. E hoje, dois memorialistas registram alguns fatos que fizeram a sua história.

 

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