28/03/2016 às 09h10min - Atualizada em 28/03/2016 às 09h10min

O CLEPTOMANÍACO – Leopoldina-MG – 1969

(Dicionário Houaiss – “Clepto” – Roubo, furto, ... “Cleptomania” – Compulsão que leva (um indivíduo) a roubar objetos, independentemente do seu valor.)

A banca de revistas do Chico Calábria era, certamente, um dos pontos mais visitados pelos leopoldinenses.
Tinha-se a oportunidade de conversar com o saudoso leopoldinense, Chico Calábria (aliás, Francesco Leone, lá da Calábria, Itália); de receber um simpático sorriso e cumprimento de Dª Antonieta Calábria, esposa do Chico, bater um papo com o Mário ou com o Pino Calábria.

Certa feita eu estava lá na banca, tentando convencer o Pino para irmos a um baile que aconteceria em Argirita, pois ele possuía a “condução”: um jipe DKW-Candango, azul, tala larga, sem capota, ...uma curtição e um ótimo meio de transporte, como dizia o Joanir (Almeida Gama, de saudosa memória).

Papo vai, papo vem, Pino bate no meu braço, e me diz: “Presta atenção naquele senhor que entrou na banca”.
Voltei-me para a porta de entrada da banca, vi e reconheci quem na banca adentrou.

Era um senhor cuja posição de destaque o colocava, em Leopoldina, como único representante da Instituição à qual ele pertencia.
Por motivos óbvios, PROPONHO, AGORA, tanto Pino (caso se lembre do nome) quanto eu, mantermos seu nome no anonimato, pois excluindo-se sua “compulsão”, o Cleptomaníaco era, socialmente, uma grande pessoa portador dum “ligeiro” desvio de personalidade.

“Ele” entrou; vagou por toda a banca; analisou quase todas as revistas e demais publicações – exceto os jornais, pelos seus tamanhos ou, talvez, por causa da dificuldade de “afano” e porte do “fruto” (ou, furto?) – e dirigiu-se lá para os fundos, perto da arara (prateleira) metálica em que estavam expostos os pequenos livros de bolso (faroeste e espionagem eram os seus “preferidos”, segundo Pino).
Olha e pega um livro, olha para os lados e, vapt vup, coloca no bolso.  Dá uma voltinha de despiste, olha e pega outro livro, e, vapt vup, novamente. Assim, repete mais duas ou três vezes, e, finalizando a “visita”, volta-se para porta da banca e vai embora.

Em cada uma dessas “embolsadas”, Pino, rápida e prestamente, anota a data e os livros  “cleptados” num bloco de papel, bem como os respectivos valores.  Finalizado o “trabalho” do “cliente”, Pino lança o “total do dia” e anexa a nova notinha às outras “companheiras” de outras datas.

Curioso, pergunto: “Pino, como é que você faz para receber as notinhas já que o “cliente”, aparentemente, tem consciência de que “cleptou”?

Olha, responde Pino, é o meu melhor “cliente” de livros de bolso e, todo mês, no dia do crédito do salário dele, ele vem até aqui, pede para somar suas notinhas, emite um cheque do total “devido”, e, NÃO SEI SE DEBOCHANDO OU GOZANDO DA MINHA CARA, ELE DÁ UM SORRISO, AGRADECE PELA ATENÇÃO E VATICINA: “PINO, ATÉ O MÊS QUE VEM!”.
 
Edson Gomes Santos, Divinópolis-MG, 2006   
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