25/02/2023 às 10h40min - Atualizada em 25/02/2023 às 10h40min

Pavimentação urbana: asfalto ou paralelepípedo?

Jairo Marchesan e Princela Santana da Cruz (*)
Asfalto na Getúlio Vargas (Foto: Luciano Baía Meneghite - 03/12/2022)

Até um passado relativamente recente, isto é, décadas de 1970/80 do século passado, a maior parte das vias ou ruas das cidades brasileiras era pavimentada com paralelepípedos.

A partir das décadas de 1990 as vias ou as ruas urbanas foram gradativamente substituídas por pavimentação asfáltica. Dentre os motivos estão a oferta de produtos pelo mercado, os custos ou valores mais acessíveis financeiramente ao material para o asfaltamento, dentre outros. As prefeituras, especialmente, e com o apoio da maior parte da população citadina, aderiram maciçamente a tais práticas. A isto, também, estavam associados, muitas vezes, e, equivocadamente, entendimentos, conceitos e práticas de bem-estar, conforto, qualidade e desenvolvimento para as cidades. Assim, as ruas pavimentadas com paralelepípedos foram cobertas ou substituídas por uma camada asfáltica.

Porém, quais os impactos ambientais e desvantagens de asfaltamento das vias urbanas? O material betume, um dos componentes para fazer o asfalto, por ser derivado do petróleo é altamente poluente ao solo e às águas. O asfaltamento também impermeabiliza o solo, ou seja, não permite a infiltração da água das chuvas no solo, e assim tende a favorecer as inundações urbanas. Além disso, altera o microclima urbano, e, consequentemente, influencia ambientalmente.

Por outro lado, vias urbanas construídas com paralelepípedos causam menores impactos ambientais. Dentre as vantagens ambientais destacam-se: geração de trabalho local ou regional, desde o processo de corte e preparação das unidades de paralelepípedos (rochas utilizadas para tal fim), construção e manutenção executadas por trabalho local ou regional. Além de que, as construções de vias com paralelepípedo também oferecem resistência, durabilidade, sustentabilidade social e ambiental, dentre outros. As fissuras entre as peças permitem que a água das chuvas infiltre no solo, abasteçam os aquíferos, evitem a velocidade do escoamento das águas de chuva, e, por conseguinte, inundações e alagamentos, dentre outros.

Ainda: de acordo com os projetos de construção e operação, a disponibilidade ou a colocação dos paralelepípedos no solo – sejam de ruas ou praças -, podem diferenciar em cores, texturas, formas e dimensões. Portanto, é possível pavimentar ruas e outros espaços urbanos com diferentes composições e ornamentações, as quais geram efeitos distintos e de grande beleza cênica e estética. Também, com a coloração de paralelepípedos de cor mais clara, os mesmos podem permitir e refletir mais luminosidade, gerando economia na iluminação pública. E, por refletir mais luz do que absorve, também reduz a temperatura e o microclima do ambiente, proporcionando maior conforto térmico para as pessoas e outras formas de vida urbana.

Ao mesmo tempo em que as ruas com paralelepípedos impactam positivamente no ambiente, também ajudam na economia por meio da geração de postos de trabalho, tanto para produzir as unidades (peças) de paralelepípedo, quanto os que colocam as referidas unidades no solo, bem como, permitem resgatar parte da cultura patrimonial. A profissão de calceteiro, por exemplo, perpetua-se no tempo. Normalmente, este ofício é tradicionalmente transmitido de pai para filho, ou de geração para geração. Os mesmos aprendem conhecimentos desde a compactação e preparação do solo, além de observar e fazer o assentamento cuidadoso na disponibilidade das pedras para formar mosaicos com os paralelepípedos, dentre outros.

Entende-se que as vias públicas ou privadas das cidades são para a trafegabilidade de todas as formas de veículos automotores e estes devem imprimir velocidades mais lentas do que as realizadas em rodovias. Portanto, as vias urbanas de menor intensidade de trânsito ou trafegabilidade de veículos podem ser construídas de paralelepípedo. Evidentemente, as vias de maior utilização, bem como as rodovias devem ser asfaltadas, pois o fluxo exige maior velocidade e segurança.

Cotidianamente, é provável que poucas pessoas percebam os mosaicos – formas ou desenhos geométricos – ao andarem pelas ruas, parques ou praças. De igual modo, nem percebem ou reconhecem a importância e as vantagens de ruas pavimentadas com paralelepípedo. Entendem que os carros devem andar em vias sem ruídos e de forma regular, e, preferencialmente, uniformes; muito menos conseguem estabelecer as diferenças entre uma forma e outra de pavimentação. Assim, é a sociedade de massa que, na maioria das vezes, não consegue perceber e reconhecer práticas sustentáveis ambientalmente, socialmente e economicamente. Porém, observar, analisar, estudar e contextualizar nossos espaços de vida possibilitam novas compreensões, percepções e dimensões no contexto da arte, da economia, da política e das relações da sociedade consigo mesma e com o ambiente.

(*) Jairo Marchesan – Professor do Programa de Mestrado e Doutorado em Desenvolvimento Regional da Universidade do Contestado (UnC).

(*)  Princela Santana da Cruz – Mestre em Desenvolvimento Regional da Universidade do Contestado (UnC).
 
Clique e relembre:


Asfaltamento mal feito já deixa à mostra paralelepípedos na Getúlio Vargas

Os falsos símbolos do progresso

A desastrosa e anacrônica decisão de asfaltar a Getúlio Vargas

Asfalto nas ruas: não há como explicar o inexplicável

Pavimentação de vias públicas em Leopoldina parece colcha de retalhos

Buracos em pontes da cidade representam perigo e podem causar prejuízos

Prefeitura atende apelo e faz manutenção em quatro pontes sobre o Feijão Cru


Link
Tags »
Notícias Relacionadas »
Comentários »