17/12/2016 às 11h01min - Atualizada em 17/12/2016 às 11h01min

COMO E PORQUE OS RESTOS MORTAIS DO POETA PERMANECEM EM LEOPOLDINA

Luja Machado e Nilza Cantoni, membros da ALLA
Publicado no jornal Leopoldinense de 28 de outubro de 2016
O personagem de hoje é conhecido de todos e se faz presente para que não fique esquecida a sua data de morte há 102 anos e o Jubileu de Prata do Concurso Nacional de Poesias Augusto dos Anjos.

Augusto de Carvalho Rodrigues dos Anjos era filho de Córdula de Carvalho e de Alexandre Rodrigues dos Anjos Filho, o pernambucano que perambulou pelo nordeste como promotor público em Granja (CE), Aracahú (Aracati?) (CE), em Atalaya (AL), Pedra de Fogo (PB) e, como Juiz Municipal em Ipú (CE).
Um menino que nasceu a 20 de abril de 1884 no Engenho do Pau D’Arco, no interior da Paraíba e foi batizado no dia 27 de fevereiro de 1885 na Igreja de Nossa Senhora dos Anjos em São Miguel de Taipu, PB, na zona canavieira do vale do Rio Una. 
Augusto dos Anjos em 1895, aos 11 anos de idade

Augusto dos Anjos em 1895, aos 11 anos de idade


Um homem que se casou em João Pessoa (PB) e um dia abandonou o nordeste para fixar residência no Rio de Janeiro (RJ), onde trabalhou o quanto e no que pode para sustentar a si e aos seus.

Augusto dos Anjos, que estudou em Recife e tendo muitas outras cidades como referência, um dia foi indicado para dirigir uma escola no final de um ramal ferroviário no interior de Minas Gerais. Juntou a família e embarcou nesse Trem. Nesta nova terra continuou fazendo versos que ainda hoje encantam e granjeou admiradores que lhe teceram elogios mil.

Moacyr Carneiro[1] afirma em entrevista que Augusto, ao ser indagado sobre sua poesia ser triste, respondeu:

“Meu filho, o meu poema vem como o meu espírito o dita. É isto. O mundo, meu caro aluno, é o pior lugar do mundo. A desilusão ocorre em todos os níveis. Eu já nasci desiludido de tudo e de todos.”
Augusto dos Anjos criou discípulos, angariou amigos e construiu uma bela História de amor à terra que adotou. A doença lhe corroeu as entranhas e lhe tirou a vida ainda jovem, mas ele desejou permanecer na terra que o acolheu. Augusto dos Anjos faleceu em Leopoldina (MG) no dia 12 de novembro de 1914.
Na previsão emocionada de José Oiticica, segundo Fausto Cunha[2], a morte de Augusto dos Anjos só se comparava à morte prematura de Castro Alves: “Poucos o compreenderão hoje [...] No futuro será, sem possível dúvida, o mais assinalado poeta brasileiro de seu tempo.”

Júlio Ferreira Caboclo foi um grande divulgador e incentivador do culto à obra do poeta em aulas e matérias publicadas. E de tal modo o fez, que se tornou uma figura indissociável da trajetória de Augusto dos Anjos entre a juventude leopoldinense. Os textos que produziu sobre o “rapaz de cérebro de ouro”[3] o confirmam.
Além disto, no dia 25 de junho de 1925, Júlio ajudou a fundar o Grêmio Lítero-Artístico Augusto dos Anjos[4], do qual foi o primeiro presidente. E foi com o apoio dele que, para comemorar o décimo segundo aniversário de morte de Augusto dos Anjos, em 1926, o Grêmio promoveu uma romaria ao túmulo e uma sessão solene que incluiu a denominada Missa de Arte, na qual falaram vários oradores.

Passado algum tempo começaram a surgir movimentos com o objetivo de levar os restos mortais de Augusto dos Anjos de volta à Paraíba. No final da década de 1940 estava sendo idealizada a construção, em João Pessoa, de um monumento a Augusto dos Anjos. Entre as diversas notícias a respeito, uma delas, de 1947, acrescentava[5] que os restos mortais do poeta seriam trasladados de Minas Gerais para a capital paraibana. No ano seguinte o mesmo periódico[6] informava que os jornalistas do estado natal de Augusto dos Anjos estavam “trabalhando junto ao governo para fazer a trasladação das cinzas do poeta” de Leopoldina para João Pessoa. Por outro lado, um jornalista recifense declarou que “os descendentes de Augusto dos Anjos nunca se mostraram desejosos das trasladações”.

Nesta época circularam rumores a respeito do túmulo do poeta em Leopoldina e em 1952 Henrique Gonzalez ressaltou[7] que os leopoldinenses ignoravam ter hospedado “um dos maiores poetas brasileiros” e ilustrou sua matéria com uma foto “do tosco túmulo cento e quarenta e nove”.
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