06/05/2020 às 09h48min - Atualizada em 06/05/2020 às 09h48min

146 – Cozinha, despensa, paiol e tulha

Imigrantes Italianos em Leopoldina

Luja Machado e Nilza Cantoni
Como foi dito anteriormente, os colonos se alimentavam principalmente do que produziam. Do armazém ou “venda de secos e molhados” como se dizia, vinha pouca coisa além do querosene, sal e uma ou outra necessidade. Era da terra que tiravam o sustento da família.

Na Colônia Agrícola da Constança e nas pequenas propriedades da região, via de regra estes alimentos chegavam à mesa do colono por meios e caminhos mais ou menos semelhantes.

Do campo de plantio ou, do roçado, eram colhidos pelos trabalhadores, transportados em balaios e cestos de taquara, nos ombros, em lombo de animais ou, por vezes, em carro de bois. Eram levados geralmente para um terreiro próximo da casa, onde recebiam uma derradeira secagem ao sol, antes de serem estocados em paiol, tulha ou despensa, nomes dos locais onde se guardava a produção das lavouras.

O milho em espigas, por exemplo, era guardado no paiol, um cômodo geralmente coberto com sapé ou telha do tipo canal, com paredes e assoalho de bambu, pau roliço ou ripa de madeira lavrada, com frestas que facilitavam a ventilação e evitava a proliferação do caruncho. De modo geral, era construído junto à casa do colono e, em alguns casos, debaixo dele ficava o chiqueiro onde se engordava o porco.

A tulha era um cômodo mais protegido, com paredes vedadas, geralmente de tijolos, onde se guardavam produtos estocados em grãos como o café, o arroz e outros alimentos que exigiam melhor proteção contra as correntes de ar e/ou predadores.

A despensa geralmente era um pequeno cômodo da casa, próximo à cozinha, onde se estocavam os alimentos mais sensíveis ou de utilização mais imediata como o fubá, o açúcar mascavo, carnes, queijos, conservas, etc.

Era no paiol que se retirava a palha da espiga e se debulhava o milho, ou seja, retirava-se o caroço do sabugo.

Depois, os grãos eram soprados e selecionados em peneiras de taquara e ensacados para serem levados para moagem. Alguns colonos utilizavam o pilão para socar e transformar o milho em canjiquinha. O mais comum, porém, era a utilização de moinhos de pedra movidos a água, que existiam pelas redondezas, onde o colono entregava o milho e recebia o fubá, descontando-se um percentual do peso que era deixado como pagamento ao proprietário do moinho pelo beneficiamento produto.

A palha do milho também era aproveitada. Uma parte, deixada de molho na água pura por algum tempo, depois era colocada para cozinhar com banha de boi e soda cáustica, até formar uma pasta homogênea. Esta pasta, despejada em superfície lisa, depois de fria era cortada em barras, dando origem ao sabão utilizado na limpeza em geral.

Outra parte era rasgada em tiras e se transformava no enchimento dos colchões para os catres (camas) da família e dos travesseiros, conhecidos pelos imigrantes italianos como “gancilão”, talvez por uma forma dialetal de “guanciale”, ou seja, almofada.

Limpa e trabalhada pelo canivete ou faca do apreciador, servia como suporte para o fumo de rolo ou o fumo desfiado, na confecção dos cigarros. Era o cigarro de palha que ainda hoje se presta a caracterizar o homem do campo. E se nenhuma dessas utilizações a consumia, a palha era então jogada para o gado que dela se deliciava, principalmente na época da seca.

Era também no paiol que a meninada buscava o sabugo, outro subproduto do milho, para a confecção de brinquedos como juntas-de-bois para os seus carrinhos. Nas manhãs mais úmidas, o sabugo facilitava o acender do fogão à lenha, por ser de combustão fácil e estar quase sempre guardado ao abrigo da umidade.

Ao lado do milho, outros produtos faziam parte dos “roçados” dos colonos. Um deles, o tomate, ingrediente que não podia faltar no preparo final da massa. E para que pudesse ser utilizado o ano todo, o comum era guardá-lo desidratado. Colhido quando começava a amadurecer, era partido ao meio e colocado ao sol para secar.

Posteriormente era guardado em potes. No momento de sua utilização era imerso em água morna para reidratação.

Os entrevistados mencionaram, também, o café que estava sempre no canto do fogão ou levado para a roça em garrafas de vidro arrolhadas com sabugo de milho. Seu preparo era todo doméstico. Colhido e seco, o grão era levado ao pilão para a retirada da casca. Depois de peneirado para limpar as impurezas, era torrado em panelas de ferro. Posteriormente, os grãos torrados eram passados em peneiras de taquara que os transformava em pó. Chama a atenção nos depoimentos o fato de não ter sido mencionada a utilização de moinhos de café, geralmente encontrados em boa parte das casas da zona rural.

O almoço e o jantar eram compostos pelo tradicional arroz com feijão, uma ou outra verdura da horta, batata doce, mandioca, ovos e alguma carne de porco, boi ou caça, geralmente conservada em grandes latas ou panelas cheias de gordura (banha) de porco. Algumas conservas à base de frutas faziam parte da despensa da casa.

O Trem de História chega a mais uma parada. Mas a série sobre os imigrantes italianos em Leopoldina continuará. Aguardem!
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17/03/2020: em virtude da pandemia de coronavírus, foram suspensos os preparativos para o ENCONTRO DE DESCENDENTES DOS IMIGRANTES DE LEOPOLDINA que seria realizado no próximo dia 17 de maio de 2020. Nova data será oportunamente informada.
 Luja Machado e Nilza Cantoni - Membros da ALLA
Publicado na edição 399 no jornal Leopoldinense de 1 de março de 2020
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