29/05/2020 às 19h09min - Atualizada em 29/05/2020 às 19h09min

152 - Pioneiros de Leopoldina – As diligências de São Martinho

Quando o militar Pedro Afonso Galvão de São Martinho atendeu à ordem do Governador da Capitania para assumir como chefe a diligência de 1784, é certo que ele estruturou a empreitada valendo-se do conhecimento de outros militares que lhe antecederam na região. Como, por exemplo, Manoel Rodrigues da Costa, um dos primeiros a serem convocados por Cunha Menezes, que já conhecia uma boa parte dos então temíveis Sertões do Leste. Como, também, Tiradentes, que há muito se achava na ocupação de ronda do mato. E, certamente, com a experiência de muitos outros membros da sua diligência.

Pelas cartas trocadas entre os militares e o governador, é possível verificar que no dia 12 de maio de 1784, o grupo estava em São Manoel do Pomba, povoado que se iniciou oficialmente com a missa celebrada pelo Padre Manoel de Jesus Maria em dezembro de 1767. E num tempo relativamente curto, no dia 22 do mesmo mês, conforme registrou em carta Galvão de São Martinho, a diligência já estava nas margens do Rio Paraíba do Sul.

Segundo Falabella[1], nesta primeira entrada o grupo chefiado por São Martinho, após deixar para trás o povoado de São Manoel do Pomba, “marchou para Roça Grande, atravessando o rio Pardo, Serra Feia, Terra Corrida, despontando à margem do Paraíba”.

Registre-se que a mais antiga referência ao topônimo Terra Corrida é do período das diligências ordenadas por Cunha Menezes. O Porto do Cunha, nomeado em homenagem a este governador da Capitania, foi criado entre 22 de maio e 5 de junho de 1784 como se depreende das cartas de Galvão de São Martinho para Cunha Menezes. Já os topônimos Roça Grande e Serra Feia só aparecem a partir das Cartas de Sesmarias concedidas na década de 1810.

Oficialmente as duas diligências, de 1784 e 1786, tinham como objetivo estancar o desvio do ouro pelas então ‘zonas proibidas’, denominação que remete ao fato de que não era permitido ao homem livre se estabelecer nesta região da zona da mata. Embora se saiba, conforme afirma Clélio Erthal [2], que “depois que São Martinho abriu o caminho da Mata nos sertões de leste, o tráfico ilegal por ali se intensificou bastante, dele participando ostensivamente até militares e civis ligados ao governo de Minas. O cabo José de Deus Lopes e o anspeçada Bernardo dos Reis, das Guardas do Cunha e do Louriçal, por exemplo, mantiveram com os invasores estreitas relações”

Mas é certo que antes da segunda diligência, Cunha Menezes escreveu uma carta na qual procurou divulgar a informação de que permitiria o estabelecimento de quarenta pessoas e duzentos escravos na região trilhada pela tropa, que se estendia desde a cidade de Rio Pomba até o Porto do Cunha.



Se dúvidas existem ainda hoje quanto a serem ou não oficiais essas ocupações, o fato é que na última década do século XVIII foram concedidas algumas sesmarias no início do percurso da diligência e, em 1810, tais concessões já chegavam às margens do Rio Novo. E é certo, também, que alguns dos beneficiários eram parentes dos membros da tropa comandada por Galvão de São Martinho. Entre eles, dois sobrinhos de Tiradentes e suas respectivas esposas, beneficiados com quatro sesmarias em 1813. Duas delas em território que mais tarde marcaria a divisa do Curato do Feijão Cru com o distrito de Bom Jesus do Rio Pardo (atual Argirita).

As diligências de 1784 e 1786 contribuíram para a fixação de pontos de passagem que mais tarde serviriam para indicar a localização de terras requeridas em sesmaria. Interessante observar que, através de informações de viajantes estrangeiros que estiveram no Brasil no início do século XIX, especialmente de Eschwege[3] e Langsdorf[4], foi possível identificar e/ou confirmar alguns pontos do trajeto destas diligências. Porque estes viajantes que estiveram nas Minas colheram informações e passaram pelos mesmos trechos que os militares haviam fiscalizado.

O assunto não esgotou, mas o Trem de História precisa fazer uma parada. Fica a promessa de que na próxima viagem falará sobre os caminhos do homem livre na Mata Mineira. Até lá.
 
 
[1] HOLANDA, Sérgio Buarque de. Monções e Capítulos de expansão paulista. 4. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2014. p. 24
[2] ERTHAL, Clélio. Cantagalo: da miragem do ouro ao esplendor do café. Niterói; do autor, 2008, p.46.
[3]ESCHWEGE, Wilhelm Ludwig von. Jornal do Brasil. Belo Horizonte: Fundação João Pinheiro, 2012
[4] SILVA, Danuzio Gil Bernardino da (org). Os Diários de Langsdorff - 3 volumes. Rio de Janeiro: Fiocruz. 2012
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