03/08/2020 às 18h10min - Atualizada em 03/08/2020 às 18h10min

156 – Pioneiros de Leopoldina – Fazenda Santana do Rio Pomba e a família Miranda

O Trem de História começa, agora, uma longa viagem para transportar informações sobre as mais antigas fazendas de Leopoldina. E escolheu como primeira uma propriedade pouco comentada na história tradicional, a fazenda Santana do Rio Pomba, também conhecida como fazenda Santana dos Miranda.

A história desta fazenda está intimamente ligada à do atual distrito de Vista Alegre, como se verá adiante. Ela estava localizada nas duas margens do Rio Pomba, com a sede no local onde mais tarde foi construída a estação ferroviária de Vista Alegre, na freguesia da Leopoldina.

Teria sido formada por Genoveva Maria de Jesus e seu primeiro marido, Francisco Manoel de Assis. Isto, antes de 1835, uma vez que nesse ano Genoveva já residia[1] no Feijão Cru com o seu segundo marido, José Fermino da Fraga e os filhos do primeiro casamento.

Em “O município de Cataguases”, Arthur Vieira[2] declara que o primeiro nome do distrito de Vista Alegre “foi o de Barca do Miranda porque Manoel da Silva Miranda aí fazia o serviço de transporte numa barca, lugar em que mais tarde se construiu a ponte que ligou o arraial à estação”.

Esta informação foi republicada por outros autores, incluindo Waldemar Barbosa de quem é o registro de que “a estação de Vista Alegre foi inaugurada em julho de 1877 e, como é natural, a denominação dela se estendeu ao arraial”.

É do mesmo Arthur Vieira a referência de que o patrimônio do padroeiro de Vista Alegre foi doado por “Antonio Manoel e sua mulher D. Jeronyma Maria do Sacramento e, Manoel da Silva Miranda e sua mulher, por pedido especial de sua fallecida mãe e sogra D. Jeronyma Maria de Jesus, por escriptura de 13 de agosto de 1876, especialmente para erigir uma capella, sob a invocação de S. Francisco de Paula”.

Conclusão esta que, segundo o processo de divisão[3] da Fazenda Santana dos Miranda merece um esclarecimento porque a oficialização da doação de 24.200 m2 (meio alqueire) para constituição do Patrimônio de São Francisco de Paula foi de fato feita por Genoveva Maria de Jesus, embora o registro tenha sido efetivado por seus filhos Antonio Manoel e Manoel da Silva Miranda, após a morte da mãe.

Vale ressaltar que, após a doação, a família Miranda ainda permaneceu proprietária de 363.000 m2 (aproximados 7,5 alqueires) na margem esquerda do Pomba e de uma propriedade maior, na margem direita, em território do município de Leopoldina, contando com 713.900 m2 (aproximados 15 alqueires).
 
A família Miranda
 
Embora o estudo sobre esta família ainda mereça ser aprofundado, pela importância que teve na formação do distrito de Vista Alegre e no escoamento da produção de vasta região dos municípios de Cataguases e Leopoldina, registra-se aqui o que foi possível apurar até o momento.

Genoveva Maria de Jesus e seu primeiro marido, Francisco Manoel de Assis, foram pais de: Manoel da Silva Miranda c.c. Maria Antonia ou, Maria Angélica de Jesus; Antonio Manoel de Barros Alvim Filho c.c. Jeronyma Maria do Sacramento; Francisco Manoel de Assis c.c. Teodora ou Teodosia Maria de Jesus; Joaquina Francisca de Jesus c.c. Joaquim Firmino de Almeida; e, Cândida Maria de Jesus de quem não se tem outras informações.

Em 1843 Genoveva já estava viúva do segundo marido, cuidando da fazenda e provavelmente do meio de transporte para atravessar o Rio Pomba.

Este transporte parece ter ficado sob a responsabilidade de seu filho mais velho, Manoel da Silva Miranda, que exercia também a profissão de ferreiro, e do genro Joaquim Firmino de Almeida, que era carpinteiro, profissão complementar à do cunhado Manoel no trato da embarcação e das tropas.

Outro filho, Francisco Manoel, era lavrador e se transferiu para o sul do Espírito Santo na década de 1870, sendo substituído pelo irmão Antonio Manoel no trabalho com a terra da família. Manoel da Silva Miranda continuou morando na sede da Fazenda Santana dos Miranda.

Pelo que se depreende da partilha dos bens de Genoveva[4], inventariados em 1876, Joaquina e seu marido Joaquim Firmino de Almeida ficaram com a propriedade na margem esquerda do Pomba, município de Cataguases.

O estudo desta família trouxe um exemplo do que prega a História Cultural no sentido de não vitimizar os oprimidos, mas valorizar a resistência. Segundo consta nos Censos[5] populacionais de 1835 e 1843, esta era uma família de pretos, característica sempre vinculada aos oprimidos e espoliados. A trajetória destes Miranda demonstra que, debalde as condições sociais da época, eles alteraram a identidade herdada de um sistema cruel, construindo nova imagem de si mesmos e transitando para outro lugar na hierarquia social.

Uma pausa se faz necessária. Na próxima edição ainda virá um pouco mais sobre esta fazenda e o distrito de Vista Alegre. Aguardem!
 
Fontes consultadas:
 
[1] Arquivo Público Mineiro 1835 CX 03 DOC 06, Mapa da População do Feijão Cru, família 95
[2] SILVA, Arthur Vieira de Resende O Município de Cataguazes. Revista do Arquivo Público Mineiro, Belo Horizonte, v. 13, 641-1028, ano 1908. p. 905
[3] Arquivo Permanente do Tribunal de Justiça de Minas Gerais. Divisão da Fazenda Santana dos Miranda. Processo COARPE/TJMG 38402032.
[4] Primeira Secretaria do Fórum de Leopoldina. Partilha Amigável dos bens de Genoveva Maria de Jesus. Processo 38404723.
[5] Arquivo Público Mineiro. Mapa da População do Feijão Cru 1835 CX 03 DOC 06, Termo da Vila da Pomba e 1843 CX 03 DOC 04, Termo da Vila de São João Nepomuceno.
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