21/05/2020 às 11h20min - Atualizada em 21/05/2020 às 11h20min

NENÉN DE FREITAS – Um tebano em Resplendor – 1974

O Vale do Rio Doce foi povoado por muitas famílias da Zona da Mata, norte fluminense, além de imigrantes italianos e alemães.  Durante os 4 anos que vivi em Resplendor, conheci e convivi com inúmeras pessoas de famílias oriundas de Leopoldina, Cataguases, Miraí, Laranjal, Muriaé, Itaperuna, Carangola, Tombos, etc. Cheguei a conhecer um primo-irmão de meu pai, Gabriel Furtado Torres, que para lá foi nos idos de 1930.
 
Conheci Dornelas, de Muriaé; Barroca, de Miraí; Senra, Itaboraí e Furtado Torres – meu primo - de Além Paraíba; Esteves e Costa, de Laranjal; Ladeira Villas, de Leopoldina; Nunes Leal, de Carangola; Batalha, de Tombos; dentre outros.
 
Durante quase dois anos trabalhei como Fiscal da Creai (Carteira de Crédito Agrícola e Industrial do BB), quando tive oportunidade de viajar intensamente pelos municípios de Resplendor, Itueta e  Santa Rita do Itueto, componentes da jurisdição de Resplendor.  Foi durante esse período que eu tive contato com os “conterrâneos”.
 
Chegando à fazenda, fui recebido pelo “Seu Nenén”, simpático proprietário e grande anfitrião.  Após realizadas as vistorias de verificação de aplicação dos créditos liberados para ele, fui convidado para lá almoçar.  Comida deliciosa, caseira e temperada pelo bom papo do “Seu Nenén”.    Naquela época  ele teria cerca de 80 anos, não sei precisar.  Alto, bigode branco, cabelos brancos e ralos, rosto vermelho, bem falante, revelou-me ser natural de Tebas de Leopoldina.  Conterrâneo!    Disse-me que de lá saíra em 1922 ou 23, e NUNCA MAIS voltara. 
 
Passei-lhe informações “atualizadas” sobre sua Tebas, sobre Leopoldina e região, e ele, atentamente, ouvia e, parecia, viajava no tempo até o longínquo 1922.  Voltara à sua juventude? Pode ter sido.   A partir daquela data, passou-me a tratar como “conterrâneo”.  “Seu Nenén”, MANOEL DA ROCHA FREITAS, era seu nome.
 
Passados alguns meses reencontro-me com ele, que, eufórico, me diz: “Conterrâneo”, a conversa daquele dia despertou minhas saudades de Tebas, daí eu pedi ao Beguinho (Wandemberg Neves Freitas), meu neto, que me levasse até lá. E ele me levou.    
 
E o que o senhor achou?  Indaguei
 
Muita coisa mudou.  Dos meus contemporâneos, encontrei somente dois ainda vivos. As ruas, calçadas.  Mais casas do que quando saí.  Asfalto, quando na minha época, ir a Leopoldina, com chuva, era uma aventura.  Tebas cresceu, ficou mais bonita e acolhedora.  Mudou tudo. Mudei eu.  Mas, a constatação da minha idade e a longa ausência da minha terra foi, disse ele, rindo:
 
“DEPARAR-ME COM O TAMANHO DA FIGUEIRA DA PRAÇA, QUE, QUANDO SAÍ DE TEBAS ERA SOMENTE UM ARBUSTO DE POUCO MAIS DE 2 METROS DE ALTURA!”
 
 Feliz, “Seu Nenén”  disse-me ainda que o retorno a Tebas tinha valido a pena e seria repetido, de outra vez com seus netos e bisnetos.   
 
        
Edson Gomes Santos – Divinópolis-MG - 2007
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