03/12/2023 às 13h23min - Atualizada em 03/12/2023 às 13h23min

O DESEMBARGADOR “POUCO LETRADO” – Divinópolis – Anos 1990 –

Edson Gomes Santos
Hoje, passando em frente ao Ed. Empresarial Paulo VI, na Avenida Primeiro de Junho aqui em Divinópolis, edifício esse construído pelo advogado, empresário e ruralista Paulo Gonçalves, veio-me à lembrança um “causo” por ele relatado.

Bem sucedido, profissional, empresarial e socialmente, Paulo mantinha contatos nos mais diversos níveis, “transitando” desde as classes mais pobres e carentes até às classes mais abastadas e influentes local, regional e em, em particular, nos tribunais superiores do Estado, além de comumente realizar encontros na sua propriedade rural, convidando personalidades com as quais mantinha contatos.

Na fazenda, naquele fim de semana, Paulo realizaria um churrasco confraternizador entre ele e membros do TJMG, dentre os quais desembargador de sua especial estima e consideração.

Chega o dia, anfitrião e convidados acomodam-se na confortável sede da fazenda, bebericam cervejas, caipirinhas e tira-gostos deliciosos e o desembargador manifesta desejo de conhecer a fazenda pois era a primeira vez que participava de comemoração numa propriedade rural.

Paulo, solícito, chama o gerente da fazenda, apresenta-o ao desembargador, solicita que prepare cavalos arreados para eles e instrui no sentido de mostrar a fazenda ao convidado.

Tudo preparado, o gerente e o convidado iniciam o passeio:

- Dotô, nois vai agora lá no pasto das vaca e dispois no pasto dos bizerro dismamado.

- Tá bão, intão vamu lá, responde o convidado.

- Agora nois vai na casa de ordenha das vaca e curral dos bizerro.

- Vamu lá intão, responde o convidado.

- Ali tão os silo trincheira cum ração pros tempu da seca.

- Grandi os silo, os boi e vaca comi tudo?, indaga o convidado.

- Tudim, tudim, e pedi mais, pruquê e’s gosta.

... Assim foi ocorrendo a visita e o gerente, a cada resposta, lançava um olhar de esguelha para o convidado como se fora uma indagação (ou interrogação?).

Finda o passeio; de braços abertos Paulo recebe o convidado, que, ao seu ouvido, sussurra:

- Paulo para me fazer presente no passeio, conversei no mesmo tom dele... roceiro.

Logo depois o gerente chama o patrão e, surpreso, diz:

- Seu Paulo, aquel’ homi é disimbargadô? Cê dissi qui ele era letrado?... isprica cum’é qui el’ é disimbagadô, falano assim, erradu cumu ieu?

Pois ali Paulo deu uma sonora gargalhada e relatou ao convidado a percepção do gerente, ciceroneando um desembargador pouco letrado, confirmando a perspicácia do homem simples.

Edson Gomes Santos, Divinópolis, 01/12/2023
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