08/03/2024 às 11h44min - Atualizada em 08/03/2024 às 11h44min

O olfato

Helenice Fonseca
No período de pandemia, muitos de nós estivemos mais atentos a este sentido. Ao menor sinal de perda de olfato e paladar surgia o temor da COVID. Um sintoma característico que podia ser passageiro para algumas pessoas ou prolongado para outras. Embora fosse uma sensação incômoda, era de longe a mais suportável.

Eu li em algum lugar que o olfato está diretamente relacionado às emoções e às lembranças. E de fato está. Tenho uma relação estreita com os cheiros e memórias. Quando criança ganhei de Natal uma boneca que fora dado pela antiga Telemig (minha mãe era telefonista) e passados quase meio século, ainda tenho muito claro na minha memória o cheiro daquele presente. E quando sinto este cheiro agora, me vejo numa viagem no tempo em fração de segundos... É instantâneo.

Na adolescência, os perfumes do Boticário determinaram um período de descobertas, transições, emoções e autoconhecimento do corpo que deixava de ser menina para virar moça.

Já quase adulta, fui enebriada pelo cheirinho de bebê (digo quase adulta, porque fui mãe muito cedo). Nessa fase da vida a casa é completamente tomada não só pelo perfume característico dos sabonetes, shampoos, talcos, óleos, amaciantes infantis, etc., mas também por toda a atmosfera em torno de um pequenino ser que nos invade a vida e a alma! É inexplicável as alterações que envolvem a chegada de um filho. Todos os sentidos são potencialmente aumentados. Você passa a ouvir suspiros como sirenes, o simples toque ou mesmo o olhar te sinalizam alguma alteração no estado da criança. Eu sentia o cheiro da febre chegando... realmente inexplicável!

Passados mais de 20 anos, meus filhos ainda me despertam sensações pelo olfato... seja pela comida que eles próprios se aventuram a fazer, seja pelos cosméticos de homens que passaram a usar, seja pela fumaça do cigarro de palha (que muito me incomoda e entristece) ou pelas velas aromáticas, incensos, óleos essenciais, e outros itens próprios da aromaterapia que passaram a ser adeptos, ou mesmo pelo simples fato de estarem em casa! O cheiro é presença!

E agora, bem agorinha, revisito a experiência de ter criança novamente em casa com a vinda da minha neta de 10 anos morando conosco. Eu que estava, já há algum tempo, residindo só, me vejo repartindo e compartilhando a casa com os cheiros e perfumes novamente! E assim a memória olfativa vai gerando novas fases e novas lembranças para o futuro! Que assim seja!
 
 
 
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