25/09/2022 às 19h01min - Atualizada em 25/09/2022 às 18h55min

Voto útil!?

Paulo Lúcio Carteirinho
É muito comum em eleições que tem apenas um turno, é o caso da eleição para prefeito em muitos municípios, como Leopoldina, ser polarizada, tendo em vista que a eleição se concentra entre dois candidatos e com isso costuma ocorrer o voto útil -  voto em candidato que pode impedir que um candidato específico não ganhe. Dessa forma, muitos eleitores que não querem desperdiçar seu voto votando em quem sabem que vai perder optam por votar no menos pior. Eu mesmo confesso que fiz isso nas últimas eleições.
 
Em eleições que possuem dois turnos o voto útil é raro de acontecer, afinal, os eleitores sabem que por mais que seu candidato preferido não tenha chances eles podem votar nele e no segundo turno faz a opção pelo menos pior.
 
Ter segundo turno permite ao eleitor um voto mais ideológico no primeiro turno. Em 2010 eu fiz isso, votei no primeiro turno de forma ideológica, sendo em Plínio Arruda de Sampaio (PSOL), mesmo sabendo que ele não tinha a menor condição de ir para o segundo turno, o qual foi disputado entre Dilma Roussef (PT)  e José Serra (PSDB), onde votei em Dilma pois não queria de forma alguma o retorno dos tucanos ao poder. O curioso é que na eleição de 2018,  para governador de Minas Gerais, no segundo turno eu votei no tucano Anastasia (PSDB) contra Zema (Novo). Política têm dessas contradições.

As eleições que têm segundo turno seguem essa lógica, costumam ter muitos candidatos e com isso é raro alguém ganhar no primeiro turno. A última vez que alguém ganhou no primeiro turno foi em 1998, sendo no caso Fernando Henrique Cardoso que teve de vice Marco Maciel, repetindo o feito de 1994 quando também ganharam no primeiro turno.

De lá pra cá tivemos segundo turno em todas as eleições para presidente. Até que veio a eleição de 2022 e isso pode mudar. De acordo com as pesquisas eleitorais, feitas por diversos institutos, o candidato que lidera tem grandes chances de levar já no primeiro turno, tendo em vista que todas as pesquisas mostram ele acima dos 45%, em algumas ele chega ter 47%, se considerarmos apenas os votos válidos, ele chega ter 52%, o que lhe garantiria ganhar no primeiro turno. Isso há uma semana da eleição, justamente onde o voto útil começa a ganhar força.
 
Muitos avaliam que o resultado desse movimento em torno do voto útil seja por causa de tentativa de golpe. Tem se falado muito em golpe nos últimos anos, não só no Brasil, inclusive, golpistas, defensores de Trump, tentaram um golpe nos EUA. Chegaram a invadir o Capitólio, sede do congresso americano, na tentativa de impedir a vitória de Biden.
 
A tentativa de golpe nos EUA fracassou mas ligou o alerta vermelho no resto do mundo, principalmente no Brasil, onde golpes são frequentes na nossa política. Isso faz com que muitos que defendam a democracia optem em querer decidir essa eleição já no primeiro turno, afinal, além da disputa para presidente, temos também a disputa para 27 governadores, 27 senadores, 513 deputados federais e 1.035  deputados estaduais. Contestar todas essas eleições dizendo que existe fraude é algo muito complicado de se fazer. Já contestar apenas uma eleição é algo mais fácil.
Vimos isso em 2014, quando após ser derrotado, Aécio Neves, contestou na justiça à vitória da Dilma, alegando fraudes, as quais nunca apresentou provas e todas as teses foram desmentidas pela justiça. O curioso é que o mesmo não falou nada sobre as eleições do primeiro turno, afinal, não teria apoio político para isso, pois muitos que ganharam eram seus aliados e jamais apoiariam qualquer tentativa de golpe.
 
Vale lembrar que a eleição de 2018 também foi muito conturbada, tendo em vista que um candidato a todo momento colocava em dúvida o pleito. Mesmo ele tendo vencido manteve esse discurso de que existem fraudes no sistema, porém nunca apresentou provas concretas, apenas teoria de conspiração, que também foram todas desmentidas.
 
Ao insistir na tese de fraudes ameaçando aplicar golpe em caso de um resultado que não seja favorável, esse candidato pode ter cometido um grande erro político, o qual  vem fazendo com que muitos eleitores optem pelo voto útil no primeiro turno, sendo construída inclusive uma grande frente ampla em defesa da democracia que vem ganhando força na reta final dessa campanha.
 
Não dá para saber se tal frente ampla a favor da democracia vai conseguir que essa eleição seja decidida no primeiro turno. Isso só iremos saber no dia 2 de Outubro quando abrirem as urnas. Mas temos que reconhecer que esse movimento pelo voto útil está muito forte e que em caso de segundo turno pode garantir uma boa vantagem para quem chegou na frente.

 

 
 
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