03/03/2023 às 20h09min - Atualizada em 03/03/2023 às 20h07min

“Pai afasta de mim esse cálice, de vinho tinto de sangue”.

Paulo Lúcio Carteirinho
Charge de Adnael - Gazeta de Alagoas
“Pai afasta de mim esse cálice, de vinho tinto de sangue”. Cito a  música “Cálice”, de Chico Buarque, para tratar do caso análogo a escravidão nas vinícolas no sul.

O  caso é mais um dos vários casos que mostram que a escravidão no Brasil nunca acabou de fato. Infelizmente, vem aumentando devido o avanço das ideias liberais aplicadas  pela extrema direita que ataca a classe trabalhadora.  

A última Reforma Trabalhista, feita no governo Temer e continuada no governo Bolsonaro,  foi um dos maiores ataques aos trabalhadores, pondo fim em vários serviços de carteiras assinadas e incentivando o trabalho informal, com trabalhadores sem nenhum direito: sem férias, 13°, FGTS, INSS, licenças... .

Essa reforma trabalhista é fruto da uberização que cada dia que passa cria  novas plataformas virtuais e formas de trabalhos  fazendo com que o empresariado demita seus funcionários  e terceirize o serviço via aplicativo ou empresa tendo o mesmo  serviço feito pelos  mesmos funcionários mas sem nenhum vínculo trabalhista com eles.  

A terceirização é um dos maiores problemas enfrentado pela classe trabalhadora, presente até no setor público. Vários trabalhadores estão trabalhando no setor público sem ser concursado ou até contratado, muitos inclusive via  MEI, onde  realizam o mesmo serviço que outros servidores públicos mas sem ter os mesmos salários e  direitos.

Infelizmente muitas empresas, tanto pública quanto privada,  estão recorrendo a terceirização como forma de aumentar seus lucros. A regra é a mesma, contratam uma empresa para essa prestar o serviço onde os trabalhadores muitas das vezes nem sabem onde vão trabalhar. Aqui tá a mágica que produz o lucro.

Sem saber onde irá trabalhar faz com que o trabalhador não consiga negociar sua mais valia de acordo com que ele vai produzir e para quem vai produzir. Vou dar um exemplo, se um trabalhador for trabalhar para o Flamengo ele irá cobrar X, se for para trabalhar para o Bangu cobrará Y. Por mais que ele realize o mesmo serviço ele ganhará mais no Flamengo do que no Bangu, afinal o patrimônio desses clubes são muitos diferentes. Quem produz mais paga mais.

Essa é a regra em qualquer lugar. Sabendo disso, invés de contratar diretamente eles terceirizam, dessa forma uma mesma empresa consegue direcionar funcionário para trabalhar no Flamengo ou no Bangu pelo mesmo preço, afinal, esse trabalhador não tem a menor noção de onde irá trabalhar.

Foi o que aconteceu com as vinícolas no sul. Os trabalhadores que estavam nas vinícolas não faziam a menor ideia para quem estavam trabalhando, apenas prestavam o serviço para  as empresas que ganham dinheiro justamente vendendo um serviço mais barato.  

Infelizmente essa prática prevalece no empresariado brasileiro que acha que o trabalhador e os direitos trabalhistas são  problema para a economia. Vale destacar que na época da escravidão muitos não queriam o fim dela, inclusive Barão de Cotegipe que votou até contra a abolição da escravatura. E pensar que ele ainda dá nome a principal via de Leopoldina. Até quando isso irá acontecer? São por homenagens assim que a escravidão continua até hoje. Gente que ao defender a manutenção da escravidão cria na mente das pessoas que isso é algo bom.

Quem pensa assim está equivocado. Está mais do que provado que países que pagam melhores salários e dão melhores direitos trabalhistas são países com melhores números na economia, além de outras áreas. Essa de  reduzir custo via trabalhadores é o barato que sai caro. Veja o caso das vinícolas no sul que além das indenizações milionárias que irão pagar perderão dinheiro com a desvalorização das suas marcas. Mas isso não é tanto problema para elas, afinal, basta mudar o nome da empresa e o rótulo do vinho que está tudo certo. Tim tim.
Infelizmente, é isso que vai acontecer. Muitas empresas vão continuar explorando os trabalhadores, dessa vez com mais cautelas, sabendo usar o chicote sem deixar marcas.

Finalizo citando Paulo Freire que dizia que não basta saber ler “ivo viu a uva” temos que saber de onde vem a uva e quem a produz. Espero que esse caso faça muitos refletirem sobre as condições trabalhistas não são nas vinícolas mas em todo serviço prestado e passem a  combater toda forma de exploração da classe trabalhadora de modo criarmos uma sociedade onde o trabalhador seja respeitado e valorizado.  

Aproveito para pedir a revogação da reforma trabalhista e da reforma da previdência. Algo que precisará de muita luta. Como dizia Marx: “trabalhador do mundo todo uni-vos”.  A luta continua companheiros!
 
 
 
 
 
 
 
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