02/07/2023 às 10h59min - Atualizada em 02/07/2023 às 10h54min

Carlos Luz e Bolsonaro: tentativas de golpes que fracassaram

Paulo Lúcio Carteirinho
Essa semana, o ex-presidente, Bolsonaro, tornou-se inelegível, após o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) condená-lo por abuso de poder político e uso indevido de meios de comunicação do Estado, que foram usados indevidamente contra a democracia. Traduzindo: tentativa de golpe.

Vale destacar que esse é apenas um processo entre vários outros contra o ex-presidente, que muito antes de assumir a presidência falava e incentivava o golpe, que inclusive chegou a ser tentado por parte de seus apoiadores, mas que não deu certo. Foi mais um golpe que fracassou.

Essa tentativa de golpe fracassado, inclusive contando com gente de Leopoldina,  fez-me lembrar de um outro golpe fracassado, o golpe contra a posse de JK, inclusive, também com participação de gente de Leopoldina, sendo o  ex-presidente Carlos Luz.  

Quem é de Leopoldina sabe que a cidade já teve um presidente (Carlos Luz) que ficou apenas 3 dias no poder. O que muitos não sabem é como ele tornou-se presidente e porque ficou apenas 3 dias no poder.

Carlos Coimbra da Luz não era natural de Leopoldina, mas sim de Três Corações. Veio morar em Leopoldina, não vem ao caso explicar os motivos, mas por aqui se estabeleceu. Casou-se com Graciema Junqueira, prima do atual prefeito. Em Leopoldina ele trabalhou como professor, Secretário do Conselho Superior de Instrução Pública, Delegado de Polícia e Promotor.

Iniciou na política como vereador, foi presidente da Câmara e  prefeito de Leopoldina entre 1923 a 1930. Em 1934 foi eleito deputado federal por Minas Gerais,  sendo reeleito sucessivamente até sua morte em 1961. Ocupou também o cargo de presidente da Caixa Econômica Federal,Ministro da Justiça, presidente da Câmara  e presidente do Brasil.

Tornou-se presidente em 1954,  num momento turbulento para o Brasil, que começou com o suicídio do ex-presidente do Brasil, Getúlio Vargas, que cometeu tal ato devido a tentativas de golpes contra ele.

Vargas havia sido eleito presidente em 1949, de forma  democrática. Ele que havia sido presidente anteriormente, entre 1930 a 1945, mas via golpe, já que mesmo derrotado nas urnas, por Júlio Prestes, conseguiu impedir a posse dele e assumiu  a presidência com apoio dos militares e da oligarquia industrial, cansados da política do café com leite da República Velha, que favorecia o setor rural e atrapalhava o desenvolvimento industrial do país. Por isso alguns dizem que isso não foi um golpe mas sim uma revolução.   

O golpe fez com que mesmo derrotado Vargas torna-se  presidente, alegando fraudes na eleição. Um detalhe importante, o voto era impresso, muito mais fácil de fraudar. . Aécio Neves inspirou-se nesse golpe e tentou fazer o mesmo em 2014, após ter perdido para Dilma nas urnas, seu partido, PSDB, entrou com pedido de cassação da chapa Dilma/Temer, alegando fraude nas urnas  e pedindo a diplomação de Aécio presidente.

Esse golpe não deu certo, afinal, o PSDB nunca conseguiu provar as tais fraudes. Além do que, não conseguiu apoio de ninguém para isso. Diferente dele, Vargas havia conseguido apoio inclusive dos militares, que contribuíram para torna-lo presidente, depois ditador, onde governou por 15 anos (1930 a 1945), num período que favorecia ditaduras, com destaque para duas: Hitler (Alemanha) e  Mussolini (Itália); responsáveis pela Segunda Guerra Mundial.  

O período de 1930 a 1945 foi um dos mais tensos da história da humanidade, devido o avanço do nazifascismo. Tinha ditaduras para quase tudo que é lado, de esquerda e de direita.  Com a derrota do nazifascismo a democracia ressurgia e com isso Vargas volta ao poder, dessa vez de forma democrática, eleito nas urnas.

Em  1949 Vargas é eleito presidente, toma posse em 1950 com grande apoio popular, mas sem muito apoio político, afinal, muitos temiam que ele aplicasse novo golpe e voltasse ser ditador. Dessa forma, seu governo foi muito atacado. Muitos tentavam derrubá-lo, com destaque para o jornalista Carlos Lacerda, seu maior opositor, que vasculhando a vida da família Vargas encontrou um negócio pra lá de suspeito, envolvendo um dos seus filhos, Manuel Vargas (Maneco), e o chefe da guarda de Vargas, Gregório Fortunato.

Gregório de Fortunato só tinha o sobrenome, pois era um homem pobre, filho de ex-escravizados (Damião Fortunato e Ana Fortunato), trabalhava como peão numa das fazendas da família Vargas. Por ser considerado homem de confiança, inclusive, era conhecido como “Anjo Negro”, foi parar no governo e acabou se envolvendo num caso de corrupção que atingiu Vargas.

O caso foi o seguinte, o quarto filho de Vargas, Manoel Vargas (Maneco), vendeu uma fazenda milionária para Gregório, o qual não tinha a menor condições de comprá-la. Tudo indica que tal venda da fazenda era mentirosa e servia para lavar dinheiro. Carlos Lacerda trouxe o caso a tona, tentando envolver o governo Vargas, taxando-o como “Mar de Lama” da corrupção.

O cerco  contra o governo foi fechando e após uma tentativa de morte contra  Carlos Lacerda que não deu certo, acabando com a morte do major Rubens Vaz, o negócio só piorou. A morte do militar fez com que Vargas perdesse apoio dos militares, ele que já não tinha tanto apoio político como citei anteriormente. Prevendo sua queda e até mesmo a prisão, Vargas comete o suicídio, pois não queria entrar para a história como presidente preso ou cassado por corrupção.

Com a morte de Vargas assume seu vice, Café Filho, que estava muito doente e   se manteve na presidência   até a eleição daquele ano,  que foi ganha por JK. Uma eleição muito questionada,  inclusive, vários tentaram anulá-la, algo comum na política brasileira, ao ponto de Bolsonaro mesmo eleito em 2018 alegou fraudes, sem prova-las.  Como podem ver, questionar eleição é coisa típica da nossa política.  

Após a eleição,   Café Filho,   achando que o país voltaria a normalidade  pede licença da presidência para tratar de sua saúde, assume então o presidente da Câmara, na  época Carlos Luz. Mas a tal normalidade não aconteceu, a troca de presidente alimentou os golpistas de plantão que viram uma oportunidade para  impedir a posse de JK e acabaram envolvendo Carlos Luz nessa trama, que quase terminou com a morte dele.

Carlos Luz assume a presidência e já no primeiro dia tem problemas com o ministro da Guerra, general Lott, que tentava punir militares que apoiavam um possível golpe, entre eles, o coronel Mamede, que no velório do general Canrolbet, contanto com presença do Alto Comando das Forças Armadas, discursou contra a posse de JK, sendo aplaudido por vários deles.

Isso aconteceu ainda no governo de Café filho, gerando  uma crise política militar a qual general Lott tentava consertar, para isso pedia uma punição ao coronel Mamede, que não foi aceita por Café Filho, nem por Carlos Luz, com isso, general Lott pede demissão, que não é aceita, mas isso agita ainda mais o meio político e  militar, onde alguns entenderam que um golpe para impedir a posse de JK estava em curso, fazendo com que a ala legalista das Forças Armadas entrasse em cena, ao ponto de retirar Carlos Luz da presidência, que por causa disso ficou apenas 3 dias no poder.

Carlos Luz até tentou se manter no poder, mas não conseguiu, devido os militares terem feito um cerco contra ele, que inclusive teve que sair fugido da capital (RJ), a bordo do cruzador Tamandaré, o qual chegou a ser bombardeado pelo forte de Copacabana. Por muito pouco Carlos Luz não acaba morto.  

Carlos Luz abandona a capital em direção a Santos, onde tenta  recuperar o poder, mas sofre o impeachment relâmpago, com isso assume o presidente da Câmara,  Nereu Ramos. Teve também uma tentativa de retorno de Café Filho, que também sofreu um impeachment relâmpago, com isso, o Brasil entrou em estado de sítio, garantido Nereu Ramos na presidência do poder até a posse de JK, que aconteceu em 1950. Esse fato entou para a história como Golpe Preventivo ou Novembrada. 

Carlos Luz  se não tivesse se metido no golpe ficaria no poder 3 meses, acabou ficando apenas 3 dias. Essa tentativa de golpe frustrada manchou sua carreira política e por pouco não o leva a morte ou a prisão. Falando em prisão, essa tentativa de golpe frustrada por Bolsonaro pode colocá-lo atrás das grades. Como eu disse lá no começo, esse foi um dos vários processos contra ele, que se condenado pode acabar sendo preso. Vamos aguardar o desfecho desses processos. Mas uma coisa é certa, assim como o golpe custou caro para Carlos Luz, custará para Bolsonaro. Atentar contra a democracia nem sempre acaba bem.
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