27/10/2023 às 12h44min - Atualizada em 27/10/2023 às 12h44min

O mercado de trabalho como território nômade

Bernardo Guedes
Pular de galho em galho é uma expressão antiga, mas que também pode ser considerada no mercado de trabalho quando o profissional constantemente troca de emprego e que agora ganha a expressão americanizada “job hopping”.

Certa vez estava comprando em um comércio e, quando estava me dirigindo para fazer o pagamento, fui abordado por uma balconista me pedindo emprego em outro estabelecimento. Ali constatei uma atitude totalmente antiética, o que se tornaria um motivo para que não indicasse a pessoa para ninguém. Independente da característica imoral percebi um traço de indecisão por quem depois percebi ter uma carreira marcada por trocas de assinatura na carteira de trabalho.

Durante mais de 10 anos exercendo a advocacia foram várias vezes que após fazer a consulta o cliente voltar dizendo que seu vizinho, parente ou amigo conseguiram um direito que eu falei que para ele não era possível. A indecisão está ligada intrinsecamente à esta capacidade de ser influenciado. Como nenhum caso é igual ao outro, a imagem que se procura mostrar nas conversas em que o fulano está bem de vida não se encaixam nas peculiaridades de vida do trabalhador nômade.

Lembro que na época em que fazia estágio era comum no ramo as desculpas para não fazer a tarefa solicitada pelo supervisor antes mesmo que ele pedisse. Ou então apresentar obstáculos para não realizar o serviço. Olhando lá para trás vejo esse comportamento com uma falta de autoconhecimento. Como se a frase “eu não consigo” estivesse impregnada na mente e se arrastado para o mercado de trabalho.

Soma-se à esse cenário de mudanças o comportamento de fuga que pode estar relacionado à educação básica, quando na escola o aluno por medo de ser reprovado acabava se transferindo para outra com o apoio dos pais.

Com a reforma trabalhista se possibilitou a prestação de serviços de uma forma mais flexível, principalmente no mercado de vendas, que possui como grande atrativo as comissões. É aí que o perigo pode morar, quando no forte condicionamento ao dinheiro o trabalhador celetista pode trocar sua estabilidade pela “pejotização”, sem saber ao certo quanto ganhará em sua nova condição.

A desistência do emprego pode também estar ligada à meta que aquele trabalhador já tem suprida no seu ambiente familiar. Estar naquele emprego após sair da universidade no seu entendimento pode representar um fracasso perto de tudo que ele já usufrui e sonha em chegar tendo modelos em casa bem sucedidos.

Dentre os vários exemplos apresentados é importante fazer uma autoavaliação. O tempo para trás não volta, mas pode ser utilizado como experiência. Buscar a ajuda de um profissional ajudará a descobrir o que pode ser corrigido.
No entanto, se as mudanças fazem parte de um planejamento à longo prazo continue com suas metas. Se algo sair fora de como planejou, não tenha medo em parar e reavaliar. Cada um faz o seu tempo.
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