29/09/2016 às 23h23min - Atualizada em 29/09/2016 às 23h23min

​Em quem votar?

Político: Voluntarismo ou profissão?

Em quem votar?
 
Paulo Lucio – Carteirinho
 
Em quem votar? Acredito que muitos eleitores estão fazendo essa pergunta. Na eleição para prefeito talvez seja mais fácil decidir, afinal, são apenas dois candidatos. Agora, na eleição para vereador é mais complicado. Afinal, são quase trezentos candidatos. 
 
Com tantos candidatos, acabamos encontrando um familiar (pai, mãe, avó, avô, tia(o), sobrinho(o), irmão(ã), neto(a), primo(a), cunhado(a)...), amigo (trabalho, escola, religião, futebol, clube...), vizinho ou algum  conhecido. Para  não desagradar ou criar inimizades, muitos acabam votando nesse conhecido. Mesmo sabendo que ele  não tem chance de ganhar ou  até mesmo de  exercer o cargo.
 
Deixando de lado os conhecidos, alguns  eleitores levam em consideração a questão profissional e educacional. Votam em:  médicos, professores, advogados, arquitetos, funcionários públicos, empresários... Profissionais bem sucedidos. Acreditam que  são mais preparados para o cargo.  
 
Poucos   eleitores  analisam projetos e propostas. Afinal, sabem que não passam de promessas. Além de que, muitas das vezes   não  competem ao cargo concorrido.
 
Temos  também aqueles eleitores que ainda vendem o voto. Infelizmente, a venda do  voto é muito praticada. Depois reclamam da corrupção.
 
Como vimos, os eleitores escolhem seu candidato analisando questão de proximidade, currículo, proposta, projetos ou favorecimento. Poucos eleitores analisam um fator que pra mim é mais importante: TEMPO. Afinal, do que  adianta o candidato ser seu parente, conhecido,   ter um bom emprego,  uma boa formação acadêmica,  boas propostas, bons projetos se ele não terá  tempo para a política?
 
A  questão do tempo traz para o debate:  político é  profissão ou voluntarismo?  Para muitos,  voluntarismo. Comprovamos isso no  discurso daqueles que defendem que o político não tenha  salário – como era no passado- ou que receba um  salário mínimo ou o mínimo possível.  Para essa galera, político deve ter um  ou mais empregos. De modo que não precisasse de dinheiro público.
 
Discordo  desse pensamento. Pra mim político é profissão. Dessa forma, o candidato eleito  deve  se dedicar ao cargo. Para isso, precisará de tempo. Nesse caso, se ele tiver um ou mais empregos,   não terá tempo.
 
Para explicar melhor, cito um exemplo. Vamos supor que eu fosse eleito vereador. Como muitos sabem,  sou carteiro. Continuaria trabalhando nos Correios e exercendo o cargo de vereador.  Meu contrato de trabalho prevê uma carga horária de 8h diárias.  Podendo ir além, se consideramos  2h extras. Vamos  considerar apenas às  8h diárias.  Mas acrescentando a hora de almoço. A lei diz que o horário de almoço não pode ser inferior a  1h, nem superior a 2h. Vamos considerar apenas 1h.  Dessa forma, 8h (trabalho) + 1h (almoço) =  9 h.
 
Temos que considerar o ir e o vir.  Ritual: acordar, tomar café,  vestir e ir para o trabalho. O tempo varia muito. Depende da distância trabalho x casa. Além  de  como é feito esse trajeto (ônibus, carro, bike, skate, patins, a pé).  Costumo ir a pé. Entre o acordar e a chegada ao trabalho, gasto em torno de 1h 30 min. Gasto quase o mesmo tempo para retornar, afinal, nunca vou direto para casa. Três  vezes na semana pego meu filho na escolinha de futebol e no conservatório. Tem dia que passo no mercado. Paro para tomar uma cerveja no bar. Encontro algum conhecido.
 
Somando tudo:  9h (trabalho) + 1h (almoço) + 1h e 30 min (ir) +  1 h e 30 min (voltar)  = 12h. Vale destacar que o dia tem 24h. Dessa forma,  24h – 12h = 12h. Ou seja, o trabalho consome 12h (metade do meu dia).
 
Quer dizer então que tenho 12h do meu dia  me dedicar ao cargo de vereador? Não!  Afinal, tenho que dormir. . Os  médicos orientam 8h de sono. Sendo que durmo em torno de 6h  a 7h. Vamos considerar apenas  6h. Sendo assim,  12h (trabalho) + 6h (sono) = 18h.
 
Restaram 6h. Essas 6h vou utilizar na política? Não! Afinal,  tenho que tomar banho, cagar, mijar, ficar com a família,  frequentar a religião, estudar, praticar um esporte, utilizar as redes sociais, ler jornal/livro, assistir um filme/ jogo/ TV...  
 
Essa é a rotina que levo. Acredito que a maioria dos trabalhadores também. Como perceberam, um trabalhador não tem muito tempo para se dedicar a política. Apenas poucas horas  do seu dia.  Esse é o retrato da nossa política. Políticos sem tempo. Que apenas  participam apenas das  sessões  da Câmara. Duas vezes na semana. Sendo poucas horas.
 
Precisamos de políticos que tenham tempo. Tempo para estudar um projeto. Tempo para conversar com a população. Tempo para fazer visita aos bairros e distritos. Tempo para participar de audiências públicas. Tempo para participar de congressos, reuniões, fóruns, encontros, palestras... Tempo para participar de um programa de rádio.
 
Não é minha intenção fazer uma campanha contra trabalhadores. Apenas chamo atenção para um fator importante. Que é  o TEMPO. Cabe a pessoa que foi eleita, repensar na sua vida. Não é uma tarefa fácil. Mas à partir do momento que optou em ser político, deverá ser político. Ao invés de dizer que vai abrir mão do salário de vereador, deveria dizer que vai abrir mão de seu emprego e se dedicar ao cargo que concorreu. Pedir licença. Se afastar. Ou diminuir sua carga horária de trabalho, de modo que tenha tempo para a política.  Se fosse eleito faria isso. 
 
Por falar em tempo, o eleitor  tem até domingo para se decidir. Use esse tempo para refletir. Votem em candidatos que terão tempo para se dedicar ao cargo. Não votem no candidato porque ele é seu parente, amigo, bem sucedido  ou porque te ofereceu algo. Votem em candidatos que realmente queiram  fazer política. 



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