30/06/2017 às 18h43min - Atualizada em 30/06/2017 às 18h43min

A era dos extremos

Gino Ribas Meneghitti
Vivemos em uma época marcada pelos extremos e pela intolerância, em todos os níveis, sentidos e aspectos: políticos, sociais, raciais, sexuais e religiosos. Se você defende e sustenta determinado ponto de vista, com unhas e dentes, corre o sério risco de ser crucificado e apedrejado pelas mãos da covardia, do medo e da ignorância.
 
A não aceitação de um mundo plural, múltiplo e diverso faz com que as pessoas se aferrem e se apeguem demasiado ao seu modo único e exclusivo de agir, sentir e pensar. Não somos seres padronizados, criados com o mesmo código genético e portadores dos mesmos princípios e valores, nem mesmo os éticos e morais.
 
No campo político, as opiniões são emitidas como se estivéssemos disputando uma acalorada partida de futebol, em que cada qual torce e defende de forma apaixonada o seu time do coração. Ataques e ofensas são remetidos e lançados com a mesma fúria e intensidade de uma torcida organizada aos integrantes e membros do time e torcida adversária. Não existe nenhum apelo legítimo à razão e a paixão conduz, de forma cega e irrefletida, os discursos e discussões, que levados às últimas consequências geram brigas, intrigas e inimizades, basta analisar o número de pessoas excluídas de nosso Facebook devido ao seu posicionamento político e ideológico.
 
No contexto social, por razões históricas, políticas e econômicas existe um abismo intransponível entre os mais ricos e os mais pobres, sendo os primeiros contemplados com os melhores serviços e atendimentos, desde hotéis a restaurantes até hospitais e escolas. Aos segundos, cabem se contentar com a velha e carcomida afirmação, "querer é poder" que lança ao indivíduo toda responsabilidade pelo seu insucesso e fracasso. Não seria exagero dizer que um dos verdadeiros motivos para o golpe foi a presença da periferia nos shopping, universidades e aeroportos.
 
A questão racial é ainda mais sutil e velada, até porque, durante muitos anos, o Brasil foi considerado um país cordial e alegre, despido de intolerância e preconceito. Esta imagem e conceito vem sendo paulatinamente desconstruída, desmentida e desmitificada: ainda faltam muitos aspectos para serem revistos, discutidos e sanados. A quota é medida paliativa e provisória, cabe aos agentes públicos ofertarem um ensino público de alto nível e qualidade, principalmente de base, nos primeiros anos do pré escolar.
 
Na luta pela igualdade de direitos entre homens e mulheres, a teoria dos gêneros nos ajuda a visualizar os prejuízos e danos causados por uma sociedade milenarmente machista e patriarcal. Os movimentos feministas e LGBT avançam na conquista de espaços e direitos, mas suas causas, infelizmente se transformaram em bandeiras políticas levantadas majoritariamente por partidos de esquerda. A direita, por sua vez, constituída pela famigerada bancada BBB, do boi, da bíblia e da bala, nega e rejeita o apelo emitido por determinados grupos, que injustamente rotulam de "minoria".
 
Na esfera religiosa, ao contrário do que poderíamos supor ou imaginar, as discussões são acirradas e movidas pelo ímpeto da fé e das circunstâncias. Num país considerado cristão, seria comum esperar uma postura de maior amor, respeito e compreensão por parte das pessoas, principalmente daquelas que assim se denominam. A intolerância religiosa transforma qualquer conversa em disputa, e qualquer diferença em discussão. A tensão é gerada a partir do momento em que quero lhe convencer de que a minha religião é melhor que a sua, de que o meu Deus é maior que o seu, de que a minha religião é a única detentora da verdade e capaz de garantir a salvação.
 
Os motivos que nos levam a separar, denegrir e difamar as escolhas e preferências alheias, quando não determinadas pelo puro e simples preconceito, se encontram no nosso baixo nível de aceitação ao novo, ao outro, ao diferente. Rever nossos conceitos e refletir sobre certas posturas e opiniões é um convite diário necessário ao reequilíbrio, ao bom senso e ao convívio civilizado.
 
Não temos o direito de julgar ou condenar as opções existenciais e pessoais de cada ser. Vivemos em uma sociedade livre e democrática, aberta à pluralidade de ideias, conceitos e opiniões, à diversidade de credos, gêneros e partidos. Nenhum ser humano deve se arrogar o papel de juiz, nem se sentir vítima passiva de preconceitos e abusos físicos ou verbais, psicológicos ou sociais.
 
A falta de entendimento e consenso entre as pessoas tem gerado um ambiente negativo de desrespeito, desavenças e exclusão. A discussão que deveria permanecer no campo das ideias, se desvia para o âmbito particular e pessoal, isso quando não parte para a violência física e agressão.
 
Políticos que defendem abertamente a volta da ditadura e assumem posturas fascistas, pastores que condenam o irmão pela sua orientação sexual, pessoas que segregam outras pela sua cor ou posição social. Até quando iremos fechar os olhos a estas questões e fingir que nada está acontecendo?Mil vezes pecar por excesso do que por omissão.
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