18/05/2020 às 20h23min - Atualizada em 18/05/2020 às 20h23min

ONU, “the bike”(a Gênese) – Leopoldina-MG – 1957 –

Edson Gomes Santos
Naquele tempo as bicicletas eram o meio de transporte mais barato, portanto, amplamente utilizado.  Qual de nós, crianças, não se  continha ante o anseio de ter a sua,  hoje “bike”, tão logo tivesse aprendido a se equilibrar sobre duas rodas?   

Meus irmãos mais velhos, Reynaldo e Antonio, tiveram as suas Phillips, inglesas e famosas.  Meu pai tinha uma Kron, sueca, vermelha, freio contrapedal e foi nela que aprendi a equilibrar-me sobre duas rodas com a ajuda de meu pai, Eduardo, que, segurando na armação do selim, incentiva-me pedalar olhando sempre para a frente. Falava: pedala, pedala, estou segurando ...mas já não estava. Eu conseguira equilibrar-me na “magrela”. Lembro-me perfeitamente do momento, na Rua Cotegipe logo após a esquina com a Tiradentes, pedalando, SOZINHO, no sentido de nossa casa, em frente à Prefeitura.

 “Esquecer” os pedais; andar sempre na “mão direita”; frear premindo o pedal para trás; respeitar os pedestres; cuidado com os veículos; enfim, passava-me os conceitos – por ele conhecidos e adotados – de como portar-me no trânsito urbano, com segurança.  Aí surge o desejo de ter u’a “magrela” ...mas não pedi, pois ele franqueara-me utilizar a “Kron” sempre que dela ele não precisasse.  E assim foi.

Meu mano Eduardo, conhecedor e sabedor de que havia diversas peças de bicicletas na loja de nosso pai, começou  “colecioná-las”: quadro Phillips; rodas Hércules; coroa e pinhão Husqvarna; guidão Monarck; paralamas Goerick; bagageiro Mercswiss; e, selim Rivera.  Sim, dava para montar uma “bike”.  

E assim o fez.  Limpou as peças que tinha em mãos; lubrificou eixos, corrente e rolamentos; preparou as peças para pintura; pintou-as; montou a magrela; poliu cada curva dela; comprou na loja de nosso primo, Job, um “kit iluminação” composto de farol japonês Sankyo, 12 v, dínamo acionado por atrito no pneu, luz alta e baixa, farolete no bagageiro, espelhos retrovisores no guidão;       ...LLLLLIIINNNDA!    
  
Normalmente as marcas das bicicletas vinham fixadas na parte frontal do quadro, logo abaixo do “cachimbo” onde era fixado o guidão.  ...Mas “aquela magrela” não tinha sua marca, nome de batismo ou outra referência “de nome”.  Não era uma PO (puro-sangue de origem) Phillips, Hércules, Goerick, Husqvarna, Mercswiss ou Rivera, MAS, sim, uma PC (pura por cruza), qual seja ela era a  soma de todas as “virtudes” daquelas; uma nova “bike”; união de todas elas numa só, com um objetivo comum.  

Eduardo, criativo, estabelece uma lógica e “cria” o nome para a sua “bike”: ONU.  Todas as diversas peças, de diversas origens, UNIDAS, trabalhando para uma finalidade ÚNICA: levar e trazê-lo em suas andanças por Leopoldina.  Nome criado;  “fera” batizada;  pé na estrada!

...E, assim, foi criado o ÚNICO exemplar conhecido (até hoje) da bicicleta de marca ONU.

(Em 1961, Eduardo mudou-se para o Rio de Janeiro, ocasião em que ele doou-me sua ONU, magrela em que passeei durante os 10 anos seguintes).

Edson Gomes Santos – Ribeirão Preto-SP - 2012       
 
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