Naqueles “anos de chumbo” nossos pensamentos, antes de serem externados, deveriam ser analisados, dispostos e expressados de modo que não pairassem dúvidas quanto ao que se desejava opinar, tanto de positivo, quanto de negativo.
Pensamentos relativos a comunista, comunismo, terrorismo, terrorista, armamento, agitação, passeata, estudante, dentre outros, somente poderiam ser externados ante pessoas de extrema confiança, em ambiente “limpo”, senão havia o risco de os dedos-duros, apelidados cachorrinhos do DOPS, denunciarem o cidadão às autoridades competentes e estas acionarem a Região Militar de Juiz de Fora, para as providências cabíveis... cana e pau!
O jornal A Verdade, sob comando do Dr. Dalmo Pires Bastos, já circulava; tinha grande amplitude de comunicação entre os leopoldinenses; trazia artigos inteligentes; entrevistas; humor; sarcasmo... sob a batuta do Serginho do Rock; as tiragens aumentavam a cada edição; e o jornal, independente quanto suas opiniões, ... incomodava.
Colaborei com o jornal vendendo assinaturas; levando material e buscando jornais impressos na Gráfica Esdeva, em Juiz de Fora; eventualmente sugerindo assunto para reportagem; aproveitando oportunidades que aparecessem a fim de aprender a escrever expressando aquilo que se deseja dizer... e é o longo caminho que percorro até hoje.
- Certo dia o telefone da minha casa toca, minha mãe atende, me chama ao atendimento e, mal digo alô, uma viperina voz começa a me atacar com palavras; xinga o Dr. Dalmo; diz que o jornal só traz mentiras; xinga a turma que orbita o jornal; diz que vai dar porrada em cada um de nós; vai denunciar o jornal & colaboradores ao DOPS; enfim, regurgita ódio, baixeza, frustração e, sobretudo, covardia, pois negou identificar-se ante as repetidas vezes em que pedi que o fizesse... posto que oculto e escudado “pelo telefone”.
Dali surgiu meu primeiro artigo publicado em jornal, sob o título Pelo Telefone, cujo texto contemplava a covardia de um indivíduo que não tinha coragem de falar abertamente sobre seus sentimentos; ocultava-se atrás de um telefone para ameaçar outrem.
No artigo eu dizia a ele que, num tempo futuro, haveria o videofone e, então, em situação semelhante, nossos rostos seriam visíveis um ao outro, olhos nos olhos... e, aí, sim!
Relembrando tal fato/ocasião, transcrevo: Responsabilidade Argumentativa - “O drama da internet é que ela promove o idiota da aldeia a portador da verdade” frisou o escritor e filólogo Umberto Eco, ao receber o título de doutor honoris causa em Comunicação e Cultura, na Universidade de Turim, na Itália. Crítico do papel das novas tecnologias na disseminação de informações, o pensador italiano foi enfático ao destacar que: “normalmente, eles (os imbecis) eram imediatamente calados, mas agora eles têm o mesmo direito à palavra de um Prêmio Nobel”.
Para o autor de “O Nome da Rosa” os idiotas da aldeia tinham direito à palavra “em um bar e depois de uma taça de vinho, sem prejudicar a coletividade”.
“Assim, é necessário Responsabilidade Social ao disseminar informações, levando em conta argumentos apresentados por especialistas (um Prêmio Nobel, como diria Eco)”.
O texto acima abre o comunicado da Sociedade Brasileira de Imunologia, esclarecendo sobre eficácia [real] das vacinas para a COVID-19... ante o atual negacionismo e fakes sobre Covid.