01/02/2023 às 13h29min - Atualizada em 01/02/2023 às 13h29min

Monsenhor Antônio José Chámel - por Dr. Nelsinho

Nelson Vieira Filho
Monsenhor Antônio Chámel e Dr. Nelsinho
No dia vinte e nove de janeiro de 1935, em Visconde do Rio Branco (MG), nasceu Antônio José Chamel.

Mostrou desde seus primeiros aninhos uma santa tendência para a vida religiosa, o que não lhe impediu de viver como criança, inclusive jogar futebol até mesmo já como adulto, participando de “peladas” até no distrito de Ribeiro Junqueira, como há tempos me narrou um cidadão lá residente.

Órfão de pai muito precocemente, foi criado pela mãe sob a observância de todos os preceitos religiosos. Desde menino, participava diariamente do hábito de rezar o terço de Nossa Senhora e de receber a hóstia sagrada. E assim, sempre ligado à religião, completou 66 (sessenta e seis) de sacerdócio no último dia 08 de dezembro, data consagrada a Nossa Senhora da Conceição.

Meu bom vizinho há décadas, o Chamel, que o povo diz padre Antônio, foi referência para todos que conviveram com ele. De fala mansa, ponderadíssimo, fez-se respeitar pelos exemplos constantes de homem de bem, espécie de “pai espiritual” para todos os sacerdotes que tiveram a oportunidade de ouvi-lo. Um padre seu amigo foi de felicidade ímpar ao dizer que o Chamel tinha invejável facilidade de tolerar até mesmo graves defeitos alheios. Conviveu com magistral fraternidade com todos seus colegas padres e ex padres, que nunca dele se afastaram.
                   
Eu pesquisei e, dentre as pessoas com quem monsenhor Chamel conviveu durante seus muitos anos de vida voltada para o trabalho, depois de bons anos bem vividos, depois de mais de 66 anos de sacerdócio e mais de 40 celebrando no Asilo Santo Antônio de Leopoldina, por mais que se procure, não se consegue encontrar alguém que lhe aponte algum defeito. Foi sem dúvida a perfeição humana, de humildade ímpar, capaz até mesmo de recusar a promoção para Bispo, alegando insuficiência de qualidades para tal missão.
                      
Em Piacatuba, “sua joia da coroa”, onde foi pároco por 33 anos, é unanimidade! Ex-coroinha e hoje “professor nota 10”, o jovem piacatubense João Paulo Araújo, em sua manifestação como representante oficial de nosso querido distrito leopoldinense, disse, referindo-se ao monsenhor Chamel, que todos agradecem a Deus por tê-lo colocado lá por tantos anos, registrando com alegria e orgulho sua generosidade, seu amor ao próximo, que extrapolou as incumbências de sua função sacerdotal, agindo como amigo e conselheiro, conduzindo a comunidade rumo ao serviço a Deus e ao próximo.
                         
Numa Santa Missa na Catedral, em comemoração aos 60 aos de sua ordenação sacerdotal, exibiu-se um admirável coral que foi criado, treinado e sempre incentivado por ele.
                           
Tinha uma cultura geral de altíssimo nível, além de uma memória invejável, capaz de se lembrar não apenas do nome completo, mas da maneira correta de se grafar nome e sobrenome de todos os padres de todos os tempos na Diocese de Leopoldina, mesmo daqueles em que o número de consoantes sufoca algumas isoladas vogais.
                            
Eu, que o conheci como bom vizinho há décadas, sempre admirei a paciência ímpar que tinha para atender diariamente, até em horários inconvenientes, pessoas humildes que o procuravam para pedir conselhos, receber sugestões e, quase sempre espontaneamente, receber doações materiais. Adaptando expressões de cânticos católicos, deve-se afirmar que, nele, “o Senhor fez maravilhas” e que, garantidamente, possuiu “um coração que é sim para a vida, um coração que é sim para o irmão, um coração que é sim para Deus”.
            
Entre o Chamel, vizinho discreto, e minha família foram décadas de convivência de perfeita harmonia.
              
Reciprocamente, ele e eu nos visitávamos e nossas longas conversas, que às vezes nos faziam rir, quase sempre giravam sobre nossas famílias, sobre minha enorme admiração por meu professor e seu irmão Oiliam José, sobre a seriedade com que o bispo dom Gerardo Ferreira Reis exercia sua função episcopal e no quanto era descontraído o modo de ser e de viver do monsenhor Gerardo Naves.
               
Sua televisão só tinha os canais abertos e o Chamel "se oferecia" para ver jogos de futebol aqui em casa, o que era uma glória para mim e para toda minha família. De uma feita, quando o Flamengo já estava em campo para uma partida oficial, liguei para dizer que ele estava atrasado e o Chamel foi enfático: “agora não posso, é a hora de minha oração vespertina”.
               
Talvez sua última assinatura tenha sido para subscrever a carta que no dia 09.01.2023 respeitosamente dirigimos ao sr. Prefeito Municipal, lamentando com veemência o destroçamento do jardim comunitário defronte nossas casas, de que cuidávamos com tanto amor. 

Enfim, filho de dona Gurra Habib José e de Chamel José, cidadão Antônio José Chamel e Couri, que todos admiraram e conheceram como monsenhor Antônio Chamel, como padre Chamel ou mais popularmente como padre Antônio, muito obrigado por ter existido, altaneiro como o cedro que, quanto mais vive, mais forte e valioso fica.!
                     
Desde o momento de sua morte até o do sepultamento, caiu em nossa cidade um caudal de líquido sagrado. Não era chuva; eram lágrimas divinas pela felicidade de no Céu ter sido recebida sua alma santa e também lágrimas de Leopoldina de saudade de seu amado Antônio José Chamel.
                    
Adeus, amigo querido.
                                                     
Nelsinho.
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