17/02/2023 às 21h50min - Atualizada em 17/02/2023 às 21h50min

NUNCA MAIS

Nelson Vieira Filho
      Há quase dez anos, passei uma semana nas cercanias da pequena vila de La Guardia, paróquia de Salcidos, província de Pontevedra, na Espanha, terra de minha mãe, da família Portela, a mesma de meu saudoso amigo Generoso Portela.  Percorri com minuciosa observação cada palmo da pequena localidade, mas, absurdo dos absurdos, deixando para “daqui há pouco”, não fui à casa lá deixada na rua Lujan por meu avô quando veio para o Brasil para, sem motivo aparente, se fixar em Miraí, minha terrinha natal. Pelo que posso deduzir, nunca mais irei à Espanha.

       Nunca mais também foi minha decisão quando, no início de 2017, vítima de um aborrecido tedioso sentimento, interrompi, por ordem médica, minha prazerosa obrigação de escrever matéria para o Leopoldinense publicar na página 2 de todas suas edições.

       Nunca mais é expressão que devo expurgar de meu dicionário, pois, atendendo gentil convite do Luiz Otávio, eis-me, sem constrangimento e até feliz, a escrever.

         Para mim, de alta dificuldade em matemática, escrever não é tarefa árdua; custoso é escolher assunto.   

      É época de carnaval e, por amor avoengo a meu neto Caio, eu fui, no dia 16, uma quinta-feira, dia útil, acompanhar o bloco do Colégio Equipe, sob o eficiente som do bem entrosado conjunto musical Corujão da Madrugada, formado por uma turma supimpa de Tebas, subiu a rua Barão de Cotegipe desde a praça Botelho Reis até a praça Félix Martins, formando um séquito de muitas centenas de foliões anônimos e familiares enternecidos, que, de tão entusiasmados, fizeram com que a dispersão durasse quase o mesmo tempo que o desfile.

         E, na porta do prédio que abriga o Colégio Equipe, me arrasou um caudal de enorme saudade, pensando que nunca mais   ali haverá uma semana inteirinha (do primeiro sábado ao último domingo)  de bailes no período da sempre majestosa Exposição Agropecuária, quando o Sexteto Rex de Porto Novo, a Orquestra Tabajara e  a Leopoldina Orquestra encantavam com seus maviosos acordes um mundão de gente, tanto moradores leopoldinenses quanto aqueles que, como eu, organizavam a vida para a Leopoldina virem na ocasião.

      Fiquei triste ao me convencer de que ali nunca mais haverá os bailes carnavalescos em que o confete, a serpentina e o lança-perfume Rodouro Metálico juntavam-se ao sadio entusiasmo dos foliões e tudo ganhava um brilho insuperável.

       E, voltando no tempo carnavalesco que nunca mais haverá,  surge-me a figura de meu avô paterno Dídimo como rei momo na minha amada Miraí, desfilando sobre um carro puxado por bois brancos aparentemente gêmeos; de minha animada mãe se encarregava de levar ao Clube Mirahy, sob sua responsabilidade,  praticamente todos os adolescentes de nossa rua, cujos pais e mães não se animavam a perder noite de sono; de meu saudável hábito de organizar, enquanto morador miraiense, blocos de sujo, a ponto de, numa ocasião, chegar até nossa casa um caminhão lotado de cataguasenses procurando “o rei dos sujos de Miraí” e pedir autorização para participar do bloco do Nelsinho.

      Ah, era quase uma covardia, quando mamãe, católica fervorosa, via chegar as então para nós temíveis e até odiadas badaladas do sino da Igreja Matriz, anunciando que era meia-noite da terça gorda, momento em que mamãe queria que todos saíssem do baile e respeitassem sua crença religiosa, pois ela acreditava fervorosamente que o carnaval acabara e chegara o dia religioso, a quarta-feira de cinzas.  Quando ela juntava alguns, os demais se escondiam, num juvenil e desrespeitoso revezamento.

       E surge uma intrigante pergunta: será que nunca mais haverá um duelo como o ocorrido em 1976, quando se exibiram na Cotegipe o Clube Cotubas e a Escola de Samba Princesa Leopoldina? O Cotubas, contando com o Expedito Lacerda na presidência, com o dinâmico Onalde Alves Ribeiro como coordenador e o Augusto Lívio Monteiro de Castro (meu amigo Tive) como carnavalesco e o casal Wilson/Marlene Ferreira como mestre-sala e porta-bandeira. A Princesa não tinha presidência, mas respeitava o sr. Aloísio Soares Fajardo como seu inspirador e tinha o Miguel Valentim como carnavalesco e o casal Waguinho/Neuzinha como mestre-sala e porta-bandeira. A mim, na Princesa, coube, por determinação do sr. Aloísio, uma tarefa imensamente desagradável: ir com o Livro de Ouro à busca de recursos financeiros para pagar as muitas despesas que nosso “atrevido” coordenador Luiz Gonzaga criava a todo momento sob o forte argumento de que “não podemos perder”.

       Escrevo hoje, sexta-feira, véspera de carnaval e fico na esperança, quase certeza, de que

1.- se repita a descomunal e pacífica animação na Praça do Urubu;

2.- que os bailes vespertinos anunciados em clubes sociais sejam um sucesso de público e de alegria;

3.- que a corajosa tentativa da atual administração municipal, fechando a Getúlio Vargas e para ela carreando a atenção noturna de foliões daqui e de alhures, seja um sucesso e um consequente incentivo para os próximos anos.   
 
 
                                                                                                                        
 
 
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