28/05/2023 às 15h22min - Atualizada em 28/05/2023 às 15h22min

Leopoldina de costas para a educação

Paulo Lúcio Carteirinho
Estátua da Princesa Leopoldina tendo ao fundo a Escola Municipal Ribeiro Junqueira (Foto: Luciano Baía Meneghite)
O prefeito Pedro Augusto vem fazendo uma ótima gestão, isso é indiscutível. Com destaque para diversas áreas, principalmente, Obras e Infraestrutura. A cidade está limpa, iluminada, pintada, organizada... .

Por outro lado, em outras áreas o governo faz o mais do mesmo, sem muito avanço. Em algumas áreas vemos alguns retrocessos, mas como  o governo é bom acaba passando despercebido, ninguém critica.  O famoso “caga mas não fede”.

Uma das áreas que estamos tendo retrocesso é a educação. Ano passado seu governo cortou o ônibus escolar para diversos alunos. Agora, ao invés de contratar professores na categoria Pedagogo, inclusive Leopoldina tem a UEMG,  que forma todo ano diversos pedagogos, inclusive estou fazendo o curso,  sua gestão prefere contratar professores na categoria Instrutor, para atender o ensino especial.

O prefeito que diz tanto valorizar os profissionais, sendo um governo técnico e não político, na educação esse discurso não se aplica. Ao contratar instrutor e não pedagogo o  governo deixa de pegar o piso salarial da categoria, pagando um pouco mais que um salário mínimo, além de fazer o professor trabalhar 8 horas e não 4 horas como prevê a legislação. Muitos deles tendo que atender a mais de um aluno especial por vez, sendo que o previsto é apenas um aluno. Trabalhando em várias escolas durante o dia, tendo que ficar se deslocando. 

Vale destacar que muitos desses instrutores são pedagogos formados. Como o governo  não contrata pedagogos, eles acabam  tendo que pegar o cargo de instrutor mesmo, ganhando menos e trabalhando mais.  É a velha política liberal que explora os trabalhadores e sucateia a educação. Professor é visto como despesa e não investimento.  

Outra política educacional liberal que o governo vem adotando é a classificação dos alunos mediante notas e comportamento, premiando aqueles que para eles se destacam.  Inclusive, minha filha foi aluna destaque. Mas isso não é algo só da prefeitura, o governo do Estado faz o mesmo, inclusive meu filho também foi aluno destaque.

A princípio nós  como pais podemos até se iludir com isso, sentir orgulho dos filhos, mas essa política é para mim a mais perversa da educação, pois cria competições dentro das salas de aulas, fazendo alunos disputarem uns com os outros o prêmio de aluno destaque, sendo que um ou mais ganham e os demais perdem. Quem "ganha" fica feliz e como ficam os que "perdem"? Como eles se sentem? 

Vamos ver na prática. Uma turma com 30 alunos, 3 serão alunos destaques, ou seja, 27 alunos não serão “nada”.  Os defensores dessa política acreditam que valorizar os “melhores” fará com que os demais, no caso, os “piores”, queiram melhorar para ganhar. Faz parte da psicologia comportamentalista que acredita que as pessoas precisam ser estimuladas.

Eduardo Marinho é um crítico da política de vencedores. De acordo com ele, “o sucesso do campeão nada mais representa que o fracasso dos perdedores”. Não que eu seja contra disputas, em alguns casos são necessárias, como no esporte, agora, na educação não. Papel da educação não é formar vencedores, mas sim pessoas humanas e a disputa desumaniza as pessoas. 

Infelizmente, essa política dos melhores prevalece na educação. Muito utilizada por escolas privadas que espalham diversos outdoors pela cidade dando destaque para alunos que passaram no CEFET ou  conseguiram vagas em alguma universidade pública. Chega até ser contraditório,  escolas privadas, vistas como melhores,  gabam-se por conseguir fazer com que alguns dos seus alunos passem no vestibular de uma instituição de ensino superior pública.

Vamos ver também essa política liberal na prática. Os  pais e os próprios alunos que por ventura passaram no vestibular e vão estudar numa universidade pública ficarão orgulhosos toda vez que passar perto desse outdoor  e verem suas fotos lá. Agora, imagina os  pais e os alunos   que não passaram, eles ao verem essa  mesma foto vão se sentir como? Com certeza como fracassados.

A política dos alunos vencedores que a escola vende para nossos jovens é cruel com aqueles que não conseguem ganhar, sendo estes a grande maioria. Essa política tira a autoestima dos jovens, que se veem como fracassados, gerando doenças, levando as drogas e até mesmo o suicídio. Já que nem todo mundo está preparado para perder, ainda mais quando a sociedade, através da escola, diz que você deve ser um vencedor sempre. O grande problema de valorizar os “melhores” é que você acaba desvalorizando os “piores”, sendo que não  dá conta disso.

Na educação não existe “melhores” e "piores". Até porque todos aprendem.  Como diz Paulo Freire: “Não há saber mais ou saber menos: há saberes diferentes”.

Leopoldina ao adotar esse modelo liberal está de costas para a educação. Por falar nisso, se analisar a estátua da princesa Leopoldina verá que a escola está atrás dela. A princesa não olha para a escola, está de costas para ela. Leopoldina deve passar olhar para a educação. Inclusive, sugiro que troquem a posição da princesa de modo ela passar olhar para a escola, simbolizando que está olhando para a educação, olhando para si e não para quem vem e fora. Mas não basta só olhar, tem que mudar as práticas pedagógicas e as políticas públicas, a começar acabando com essas disputas tolas nas escolas, assim como retorno do transporte escolar para todos os alunos e a contratação de pedagogos.

Vão fazer isso ou vão preferir continuar  de costas para a educação?
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