02/09/2023 às 07h59min - Atualizada em 02/09/2023 às 07h59min

Os inconvenientes do universo feminino

Helenice Fonseca
Tempos atrás, ainda durante a pandemia, ouvi no radio o resultado de uma pesquisa sobre a segurança das mulheres nos deslocamentos pela cidade. Os dados desta pesquisa foram levantados pelo Instituto Patrícia Galvão em 2021 e teve o apoio técnico da ONU Mulheres.

A pesquisa apurou que quase 80% das mulheres sentem algum tipo de medo ao sair de casa. A grande maioria tem receio de sofrer algum tipo de importunação sexual e sendo assim, evitam sair à noite, transitar por ruas desertas, evitam certos tipos de roupas, etc...

Ao mesmo tempo que eu ouvia isto no radio do meu carro parado no sinal, fechei (por instinto) discretamente o vidro da minha janela para evitar contato visual com alguns homens que estavam no carro emparelhado com o meu. E por alguns instantes coloquei em dúvida o percentual divulgado pela pesquisa.

Creio que o número de mulheres que temem passar por algum constrangimento de cunho sexual ou machista, beira aos 100%. A meu ver, ao sair de casa, as mulheres têm a preocupação constante com o iminente assédio, ou seja, estamos em risco o tempo todo e sabemos disto. E por isto, o cotidiano nos impõe um comportamento defensivo que se torna tão “natural” que muitas mulheres não percebem que esta importunação é uma prisão imposta à mulher pela cultura masculina/machista.

 Imagine estar caminhando na rua e perceber que mais adiante na mesma calçada há um bar com homens na porta... Imagine entrar num transporte coletivo e perceber que os assentos disponíveis estejam com homens sentados ao lado... Imagine parar num posto de combustível a noite onde tenha somente homens para atender e abastecer... imagine estar numa fila em local pequeno com um homem atras de você... imagine estar sedada sob cuidados exclusivo de homens... imagine estar sozinha na beira da estrada precisando de ajuda e parar um carro com 2 homens... imagine entrar no Uber sozinha a noite... imagine ter que passar na frente de uma obra cheia de trabalhadores homens... imagine ter que pegar o carro no estacionamento tarde da noite...  imagine que tudo isto é um enorme risco para as mulheres todos os dias, o tempo todo!

Agora, imagine que todas estas, e muitas outras, situações não afligem os homens, somente as mulheres (por causa dos homens)!

E por fim, imagine que você tenha que ensinar para sua filha ou para sua neta ainda criança que o mundo masculino oferece tantos riscos, somente pelo fato dela ter nascido mulher.

Ainda de acordo com o Instituto Patrícia Galvão, somente em 2022, 51mil mulheres sofreram algum tipo de violência por dia no Brasil , o que representa 35 mulheres agredidas a cada minuto.

Definitivamente o temor imposto às mulheres é fruto do desrespeito, do machismo, da violência, em nome de um conservadorismo que voltou a ser publicamente defendido nos últimos anos.

Soma-se a isto, o surgimento de um movimento que incentiva o machismo e categoriza as mulheres como inferiores aos homens, o tal “red pill”. Este movimento vem ganhando adeptos nas redes sociais e pasmem, mulheres estão defendendo a tese de total submissão aos homens. Não sei onde isto vai dar!

Bom, mas esta crítica ao movimento Red Pill fica para outra oportunidade.
 
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