28/04/2024 às 11h43min - Atualizada em 28/04/2024 às 11h43min

Governo Pedro na contramão da história

Paulo Lúcio – Carteirinho - Professor de História
Retratos de índios puris feitos pelo pintor alemão Johann Moritz Rugendas no século XIX
Essa semana tivemos um fato histórico, pela primeira vez, depois de 524 anos, um representante de Portugal reconheceu os crimes cometidos por seu país durante a invasão  e “colonização” do Brasil e de outros países.
 
De acordo com o atual presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Souza, Portugal cometeu o crimes  contra os povos indígenas e africanos. Vale lembrar que por quase 400 anos Portugal matou, torturou, sequestrou, comprou, vendeu, estuprou, violentou, castigou  e torturou indígenas e africanos.
 
Para ter noção do tamanho da atrocidade, segundo alguns historiadores, cerca de 70% dos povos indígenas brasileiros foram mortos no Brasil devido as guerras, doenças, escravidão e até mesmo suicídios, muitos preferiram a morrer a aceitar a exploração. Leopoldina mesmo não têm mais puris, coropós e coroados. Esses foram massacrados,  mortos,  escravizados e tiveram suas terras tomadas. Isso tem nome, é: genocídio.
 
No tocante aos africanos, vale lembrar que o Brasil foi o país que mais recebeu escravizados no mundo. Tanto que é o país, fora  da África, que têm mais negros. Os negros vieram para cá forçadamente, foram capturados, milhões morreram nas guerras e nos navios negreiros. Os que sobrevieram viraram escravos. Milhões de homens, mulheres e até crianças.
 
Muitos, inclusive vieram parar em Leopoldina, sendo vendidos em praça pública como se fosse mercadoria. Como mostra o jornal Leopoldinense do século XIX, primeiro jornal da cidade, onde anunciavam vendas de escravos. Com destaque para a edição número 34 de 1881, página 3 que diz: “Escravos a venda:  Candido Simplício de Novaes, recentemente chegado a esta cidade, participa ao público trouxe 80 e tantos escravos de ambos os sexos, bonitas figuras, os quaes vende por preços mui conveniente ao comprador...”  

Essa é  história de Leopoldina a qual no seu aniversário deveríamos está contando, pedindo desculpas e procurando formas de sanar os erros cometidos no passado contra os indígenas e africanos que foram mortos, estuprados, escravizados, sequestrados, vendidos, comprados, alugados, abusados, explorados, torturados, massacrados...   
 
Sei que a cidade leva o nome da princesa Leopoldina e não tem como mudar, agora, nem por causa disso devemos romantizar a história como vem fazendo o prefeito Pedro. Ao romantizá-la, o governo Pedro está indo na contramão da história.
 
Falo isso não como oposição ao governo Pedro, até porque não  sou, já fui, não sou mais, tendo em vista que aprovo seu governo e  inclusive defendo que a esquerda apoie sua reeleição, caso ele venha candidato novamente,   e sou muito criticado  por causa disso, como Lula ao convidar Alckmim para ser vice e compor o governo  com  a direita e o centrão.
 
Falo  como professor de história que  tem como missão contar para os alunos a história do Brasil de Leopoldina,  e como historiador não  posso concordar com homenagens a uma família que matou, capturou, escravizou, estuprou, violentou, torturou pessoas por quase 400 anos.
 
Nada contra membros da família real,  até porque muitos deles  não têm culpa dos crimes cometidos  pelos seus antepassados, porém, deveriam fazer igual o presidente de Portugal,  pedir desculpas e procurar formas de indenizar. Como disse o presidente de Portugal: "Temos que pagar os custos (pela escravidão).

Há ações que não foram punidas e os responsáveis não foram presos? Há bens que foram saqueados e não foram devolvidos? Vamos ver como podemos reparar isso"
  
 
Leopoldina aguarda pedido  de desculpas pelas mortes dos puris, coropós e coroados, assim como pela escravidão dos africanos. Aguardamos desculpas e não homenagens “Seu Pedro”.
 
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